09/10/2004 - 12h49

Especial 3 - Meio Ambiente terá estudo sobre o que o Brasil perdeu de florestas

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Ministério do Meio Ambiente (MMA) terá, até o ano que vem, um estudo completo que dará a noção exata do que o Brasil perdeu de florestas desde o descobrimento. O trabalho será feito por instituições de pesquisa que participaram de edital para levantar o mapa dos remanescentes em cada bioma brasileiro.

Será o primeiro dado oficial sobre a cobertura vegetal do país, seus diferenciais, bem como a distribuição dos biomas. Segundo a gerente do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira (Probio), Daniela Suárez, o estudo servirá para implementar políticas na área ambiental, em consonância com o desenvolvimento sustentável, e será indicador de qualidade dos ambientes que o brasileiro está ocupando.

O Probio está apoiando o trabalho das instituições que venceram edital do MMA para realizar o levantamento. Os remanescentes da Amazônia serão inventariados pelo Inpe, da caatinga, pela ONG Associação de Plantas do Nordeste, dos Campos Sulinos, pela Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e do Pantanal, pela Embrapa Informática e Agropecuária. O estudo para a Mata Atlântica passará por novo edital por falta de instituição selecionada na primeira fase.

Imagens de satélite de 2002 vão compor o estudo, que será complementado com checagens em campo. "Esse será um diagnóstico completo e fidedigno importante para nos nortear sobre como conservar e como usar", observa Daniela Suárez.

O levantamento dos remanescentes dos biomas brasileiros lançará mão de estudo feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2003 e divulgado em abril deste ano, o mapa dos biomas. "As instituições vão usar os mapas para se localizar e mapear seus limites de investigação", explica a gerente do Probio.

Criado em 1996, no âmbito da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do MMA, o Probio tem apoiado projetos que permitam implementar as recomendações da Convenção da Biodiversidade, assinada pelo Brasil na Rio 92 (a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada de 3 a 14 de junho de 1992). O programa recebeu doações do Global Environment Facility (GEF), uma linha de financiamento a projetos de países em desenvolvimento, e investiu iguais quantias como contrapartida, ao longo de sua existência. Sua execução financeira é da ordem de US$ 20 milhões.

Um dos estudos do Probio foi o inventário, ou seja, levantamento de espécies que ocorrem em áreas determinadas, de todos os biomas brasileiros. Descobriu-se, por exemplo, que há 300 áreas insuficientemente conhecidas. Dessas, 21 foram inventariadas até agora.

09/10/2004 - 12h41

Especial 2 - Biólogo diz que cerrado já perdeu 54% dos 204 milhões de hectares

Lana Cristina
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A organização não-governamental (ONG) Fundação S.O.S. Mata Atlântica divulga como dado oficial, de levantamento feito com base em imagens de satélite e comparação com registros históricos, que a perda do bioma é da ordem de 93%. Os 7% restantes estão protegidos por lei. Estima-se que a Mata Atlântica chegava a ocupar o litoral cearense na época do descobrimento do Brasil.

É justamente para não chegar a esse nível de devastação, que a ONG Conservação Internacional (CI) tem realizado estudos sobre a perda de cobertura vegetal no cerrado. Imagens de satélite coletadas em 2002 indicam que o cerrado perdeu 54% de seus 204 milhões de hectares. "A conclusão é que o cerrado tem perdido, na média, 1,1% de sua área original ao ano", observa o biólogo Ricardo Machado, diretor da Conservação Internacional para o Bioma Cerrado.

Machado é taxativo ao afirmar que o bioma só existirá em áreas protegidas no ano de 2030, caso o desmatamento continue nos níveis atuais. "O uso do cerrado pelo agronegócio, principalmente depois que as pesquisas adaptaram a soja para o plantio no país, é praticamente irreversível. Mas temos também que estudar o potencial econômico de determinadas espécies para fazer o que chamamos de uso do cerrado em pé", defende o biólogo, como alternativa para um uso mais racional do bioma.

O Cerrado tem hoje apenas 5% de sua área protegida e a CI afirma que o ideal seria 10 pontos percentuais. A ONG vai atualizar o estudo sobre o desmatamento no cerrado com base em imagens de 2004. O levantamento será divulgado no ano que vem. "Há estimativas da Embrapa indicando que não se sabe exatamente o que se tem em 46% da área do bioma, porque nas imagens de satélite confunde-se árvores com restos árboreos e outros elementos. Pode ser que restem só 30% e, numa estimativa mais catastrófica, só 10% de cerrado", lamenta Machado.

09/10/2004 - 11h48

Governo quer incluir todos os municípios no Bolsa-Família até o fim do ano

Irene Lobo
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome incluiu, em setembro, mais 55 municípios no Bolsa Família. Com isso, o programa chega a todas as cidades de 18 estados brasileiros, um total de 5.521 municípios. Em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM, o diretor de gestão do Bolsa Família, Sérgio Paganini, afirmou que a proposta do governo é incluir todos os municípios no programa até o fim deste ano.

Ele explica que para fazer parte do Bolsa Família é necessário que as famílias sejam incluídas no Cadastro Único do Governo. "Qualquer município tem acesso ao cadastro único, basta entrar em contato com a Caixa Econômica Federal e pegar uma senha de acesso", informa Paganini. As famílias que ainda não recebem o benefício estão concentradas em nove estados das regiões Centro-Oeste, Norte e Sul.

Paganini explica ainda como funciona o Programa Bolsa Família. Segundo ele, as famílias cadastradas recebem uma transferência de renda mensal que pode variar de R$ 15 a R$ 95, dependendo da condição de cada uma. As que possuem renda per capita de até R$ 50 recebem um benefício básico de R$ 50 e mais R$ 15 por cada criança com idade entre zero e 15 anos. Se houver na família mulheres grávidas ou amamentando, estas também recebem R$ 15, até o limite de R$ 45. As famílias com renda per capita entre R$ 50 e R$ 100 recebem um benefício que varia entre zero e R$ 15 e não recebem o benefício básico.

Para receber o dinheiro, as crianças devem estar em idade escolar e ter freqüência mínima de 85% na escola. As menores de sete anos precisam fazer um acompanhamento de saúde. A fiscalização do programa, segundo Paganini, existe em todos os municípios e é feita toda vez que há alguma denúncia ou informação que aponte irregularidades.

O diretor disse também que muitas famílias cadastradas não recebem o benefício porque estão com os dados incompletos. "Nós estamos fazendo uma convocação dos municípios para que complementem os dados para que nós, automaticamente, incluamos essas famílias no programa", concluiu.

09/10/2004 - 10h05

Ministros discutem no Rio posição do Mercosul sobre acordo de livre comércio com UE

Edla Lula
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Ministros da Argentina, Paraguai, Uruguai e Brasil discutem e decidem hoje, no Rio, durante almoço no Copacabana Palace, a posição do Mercosul em relação ao destino do acordo de livre comércio com a União Européia. Com prazo para serem concluídas no dia 31 deste mês, as negociações não prosseguiram no final de setembro, quando ambos os blocos apresentaram as suas "propostas pré-finais" para a entrada de produtos livre de tarifas nos respectivos mercados. Nem os negociadores da União Européia gostaram da proposta do Mercosul nem o grupo sul-americano ficou satisfeito com a do grupo europeu.

O almoço de trabalho é oferecido pelo ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, e prepara também reunião entre chanceler e o comissário de Comércio da UE, Pascal Lamy,
inicialmente marcada para o dia 20 deste mês, em Lisboa.

Para os europeus, a proposta do Mercosul representa um retrocesso em relação a proposições anteriores, especialmente porque diminuiu o número de produtos da Europa que entrariam nos países membros com alíquota zero no Imposto de Importação. Os negociadores do Mercosul se defendem afirmando que a última oferta, feita no dia 24 de setembro, abre o leque de redução tarifária na área de bens para 90% das exportações européias para a região. Além disso, o Mercosul cedeu, ao privilegiar a União Européia em áreas como compras governamentais, investimentos e serviços.

Do lado sul-americano, a contra-proposta da União Européia foi recebida como inaceitável, porque, além de diminuir espaço anteriormente cedido para entrada de mercadorias
importantes para a região, como as do setor agrícola, impõe regras consideradas prejudiciais para os países do Mercosul como a exclusão, no acordo, de mercadorias beneficiadas pelo
sistema de drawback, que isenta ou reduz os impostos sobre insumos de produtos fabricados com a finalidade de exportação.

No caso da carne bovina, por exemplo, a proposta da UE prevê, na primeira etapa, quota de 60 mil toneladas para os quatro países do Mercosul, a ser implementada ao longo de dez anos. Pela regra o Brasil ficaria, no primeiro ano, com uma quota de 2,4 mil toneladas. No Itamaraty conta-se que o estabelecimento dessas quotas foi até motivo de piada entre os ministros do Mercosul: "não dá nem para fazer um churrasco", teria dito a ministra paraguaia, Leila Rachid de Cowles.

Segundo o chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Regis Arslanian, o Mercosul não tem pressa em concluir o acordo até o dia 31 de outubro, data de interesse
da comissão européia, tendo em vista que este será o último dia do mandato dos atuais integrantes da Comissão Européia. "É melhor fechar um bom acordo depois do prazo, do
que fechar um mau acordo", defendeu o diplomata.

Enquanto isso, os observadores acompanham com preocupação o desenrolar das negociações. "O grau e a natureza das divergências entre os dois blocos são tamanhos, que tornam complicada a pretensão de encerrar as negociações até outubro", diz o diretor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, Alcides Costa Vaz.

Para o professor, no entanto, o Mercosul deve insistir no acordo de livre comércio com a Europa. "Estamos numa posição muito delicada porque em fracassando as negociações com a
União Européia não teríamos extraído êxito em nenhuma de nossas negociações em bloco, nem no que se refere à Alca, nem ao acordo com a União Européia. Este é um aspecto preocupante
porque os acordos regionais continuam ocupando um espaço importante na estratégia comercial.
De outra maneira, só nos restará a Organização Mundial do Comércio", ponderou o diretor.

Os exportadores comungam da tese de que é melhor extrapolar o prazo a fechar um mau acordo. "O Mercosul ficaria muito mal colocado se as ofertas feitas pela União Européia fossem
aceitas", disse o presidente do Conselho de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Osvaldo Douat.

"A União Européia recuou na decisão do estabelecimento de quotas agrícolas e se não houver uma revisão dessa posição por parte dos negociadores europeus, teremos um ganho muito
pouco expressivo para justificar o acordo", opinou Douat.

Ele ressalta ainda que mais 10 novos países estarão representados na comissão que a partir de primeiro de novembro passa a comandar as negociações e "isso significa a
demanda de mais tempo para se chegar a um acordo".

A União Européia representa hoje 25% das exportações brasileiras e, para Douat, o país não vai conseguir uma "ampliação expressiva" das vendas para a região caso o acordo retroceda.

09/10/2004 - 9h10

FNDE garante funcionamento de escolas

Rosamélia de Abreu
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A solução de pequenos problemas que podem ser resolvidos com pouco dinheiro para garantir o bom funcionamento de uma escola contam com o apoio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Foi criado o programa Dinheiro Direto na Escola para ajudar os diretores e professores das 125 mil escolas públicas de 1ª à 8ª série a ter dinheiro em caixa para essas pequenas despesas. Neste mês o FNDE liberou R$ 70 milhões para as escolas.
No ano já foram liberados R$ 170 milhões, dos R$ 364 milhões previstos no orçamento.

Para o presidente do FNDE, José Henrique Fernandes, o programa está dando tão certo que vai ser ampliado. "Nós queremos ampliar o atendimento do Programa Dinheiro Direto na Escola. Nossa idéia é que a partir de 2006 nós já estaremos com o programa nas escolas do ensino médio e educação final".

O valor que cada escola recebe varia de acordo com o número de alunos informados no Censo Escolar, sendo de, no mínimo, R$ 500,00. Os recursos são anuais e devem ser aplicados na aquisição de material permanente, manutenção, conservação e pequenos reparos, aquisição de material de consumo, desenvolvimento de atividades educacionais, avaliações e projetos político-pedagógicos. Cerca de 125 mil escolas estaduais e municipais e duas mil escolas particulares receberão o repasse até o fim deste ano, totalizando 31 milhões de estudantes beneficiados.

O presidente do FNDE informou ainda que as escolas do Ensino Fundamental podem saber a data prevista que vão receber o beneficio pelo telefone 0800 616161. A ligação é gratuita. O cronograma de pagamento para as escolas também está disponível na Internet no endereço www.fnde.gov.br .

09/10/2004 - 8h15

Greve dos bancários continua e pode ser a maior da história

Caio d'Arcanchy
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Federação Nacional de Bancos (Fenaban) e o movimento dos bancários em greve não confirmaram a possibilidade de uma solução para o impasse nos próximos dias. De acordo com a Fenaban, até o fim da tarde desta sexta-feira (8) não houve nenhuma negociação, e a proposta de reajuste continua em 8,5%. Já o presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Jaci Afonso, afirmou que o movimento não vai ceder e que a greve continua.

Segundo a Confederação Nacional dos Bancários (CNB), depois de 24 dias de paralisação, CNB), esta se tornou a maior greve da categoria já realizada no país, superando a paralisação da campanha salarial de 1946, que durou 19 dias. A última greve nacional dos bancários, em 1991, durou três dias.

09/10/2004 - 8h00

Debates e manifestações marcarão Dia de Luta pela Democratização da Comunicação

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O Dia de Luta pela Democratização da Comunicação a ser comemorado no próximo dia 17 será marcado por uma série de eventos e manifestações em todo o país promovidos por várias entidades. Entre elas estão a Comissão de Direitos Humanos da Câmara – que organizou a campanha Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania –, o Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC) e a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos).

Uma das atividades programadas é a transmissão de um debate ao vivo sobre ética e qualidade da programação das televisões brasileiras, que será retransmitido por TVs educativas, culturais, universitárias, legislativas e comunitárias de todo o país, assim como rádio comunitárias.

O debate ocorrerá uma hora antes do protesto simbólico, convocado pela campanha para o mesmo dia, de desligamento dos televisores durante uma hora, entre 15 horas e 16 horas. Entre os eixos principais desse protesto estão o respeito aos direitos humanos na programação da TV, a democratização do acesso aos meios de comunicação e a defesa dos sistemas público e comunitário de televisão.

As entidades associadas ao FNDC também foram mobilizadas para promover atividades não apenas no dia 17, mas também durante a segunda semana de outubro, quando se comemora, em todo o mundo, o Dia pela Democracia da Mídia, marcado este ano para 18 de outubro. "É interessante que isso venha de uma decisão internacional porque foge um pouco do debate maniqueísta e, às vezes, polarizado de atribuir qualquer movimento que a sociedade faça em relação à exigência da democracia no segmento de mídia, a um movimento de censura, autoritário", observa o coordenador-geral do FNDC, Celso Augusto Schröder.

Segundo Schröder, os eventos relacionados ao Dia de Luta pela Democratização da Comunicação terão como foco o debate sobre a falta de democracia na comunicação brasileira, as implicações na sociedade e formas de supri-la. "A data é importante porque é um momento internacional de reflexão sobre um espaço público que, normalmente, não tem discussão e que se pressupõe que seja democrático por natureza, que é a mídia", destaca.

Para colocar o assunto em debate, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos) está organizando, em faculdades de Comunicação do país, a 2ª Semana pela Democratização da Comunicação. "Essa semana tem atividades como mostras de filmes nas ruas, debates nas escolas, oficinas de capacitação, oficinas de jornal comunitário, enfim, uma série de eventos que procuram chamar a atenção do maior número de estudantes para o tema que, absolutamente, não é discutido nas universidades brasileiras, com algumas exceções", critica um dos coordenadores-gerais da Enecos, Bráulio Ribeiro.

Em Brasília, por exemplo, estudantes de Comunicação montarão um estúdio de rádio na Torre de Televisão, um dos principais pontos turísticos da capital. Com a participação popular, eles transmitirão um debate ao vivo, com duas horas de duração, para emissoras filiadas à Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço).

09/10/2004 - 7h59

Proteção ao trabalhador portador do HIV é ampliada no Rio Grande do Sul

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Agência Brasil

Brasília – O programa de proteção ao trabalhador com Aids é ampliado no Rio Grande do Sul. O o objetivo é conscientizar empregadores e empregados sobre o tema, garantindo a inserção dos profissionais soropositivos no mercado e incentivando as denúncias de discriminação.

A Delegacia Regional do Trabalho de Porto Alegre passará a atuar em conjunto com a organização não-governamental Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV, com o apoio
dos ministérios da Saúde e do Trabalho, da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).

Os investimentos se concentrarão na formação de recursos humanos e mobiliário da central de atendimento. "A questão do preconceito nas empresas em relação aos portadores do HIV continua aumentando", revela o coordenador do atendimento aos trabalhadores na DRT gaúcha, Carlos Aleixo, acrescentando que cada vez mais as empresas têm fórmulas diferentes de executar a discriminação. "Suspendem, advertem até que, por fim, conseguem que o trabalhador peça demissão", denuncia.

A Delegacia Regional do Trabalho de Porto Alegre já era considerada modelo na proteção ao trabalhador soropositivo. Desde 1998, foram atendidas cerca de 1,3 mil pessoas infectadas com HIV. Em 98% dos casos de demissão, um processo de mediação foi suficiente para garantir a reinserção do trabalhador na empresa. "Em apenas 11 casos a mediação não funcionou", conta Aleixo", lembrando que mesmo nesses casos a ata é emitida. O documento destaca que o empregador não poderá mais alegar que não foi informado sobre a sorologia do trabalhador.

Segundo o coordenador, é uma forma de fornecer e criar provas em favor do empregado.

"LEIS Uma portaria interministerial publicada em 1992 proíbe a testagem anti-HIV no momento admissional, periódico e demissional dos funcionários públicos federais. Cidades como Juiz de Fora, Rio de Janeiro e Maceió, estados como Bahia e São, e o Distrito Federal já possuem leis que prevêem punição para o preconceito contra soropositivos. Em São Paulo, por exemplo, as empresas ou entidades de direito privado que discriminarem os trabalhadores com HIV podem ser punidas com multa de até dez mil vezes o valor nominal da Unidade Fiscal do Estado.

No campo da Previdência Social e do trabalho, as pessoas infectadas pelo vírus tem garantido à licença para tratamento de saúde, liberação dos fundos PIS/PASEP e FGTS. Em caso de progressão da doença, a lei 8.742, publicada em 1993, garante um salário mínimo mensal. Para divulgar essas informações, o Ministério da Saúde conta com o Programa Nacional de DST/Aids, mais especificamente com unidade de articulação com a sociedade civil e direitos humanos.

Coordenador da área, o médico sanitarista Roberto Brant reconhece que o Estado ainda é maior violador dos direitos das pessoas vivendo com o HIV/Aids. "Começa na unidade de saúde, com a dificuldade enfrentada pela grávida com o vírus ser atendida na hora do parto e vai até os concursos públicos para a área militar", lamenta Brant. "Por outro lado, temos avançado muito no debate dessas questões. Fazemos, inclusive, uma articulação com o poder legislação para a criação de frentes parlamentares de DST/Aids. Já existem sete no país. Eles podem potencializar a discussão e propor leis para coibir algumas práticas." Apesar de não admitir a entrada de militares no quadro de carreira das corporações, as Forças Armadas tem buscado desenvolver ações de prevenção nos quartéis e escolas de formação. Em março, um convênio realizado com o Ministério da Saúde e Programa das Nações Unidas para a Aids (Unaids), intensificou as ações. O almirante médico Carlos Edson Martins lembra que os recrutas não são dispensados em caso de soropositividade. "E, se depois de admitido, o militar de carreira for infectado pelo vírus, ele continua desempenhando suas funções normalmente e só vai se afastar caso manifeste alguma doença grave em função do HIV", afirma o almirante. "Por força de lei, o militar de carreira é submetido a uma inspeção de saúde e essa inspeção prevê uma série de exames, entre eles o HIV, tuberculose e hepatite. Se positivos, as pessoas não reúnem condições, a priori, para ser militar da ativa."

09/10/2004 - 7h59

Aumentou desde 1980 número de adolescentes grávidas no país, diz IBGE

Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil

Brasília - De cada 100 mulheres que têm filhos no Brasil 28 engravidam antes dos 18 anos. Desde 1980, o número de adolescentes grávidas aumentou 15%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Gabriela de Jesus Brito faz parte da estatística. Aos 16 anos, ela ficou sabendo que estava grávida de seu primeiro namorado. Teve o filho um mês depois de completar 17 anos.

Hoje, aos 19 anos, ela conta que teve que reorganizar toda a sua vida por conta da gravidez precoce. "Até para sair, para me divertir eu tenho que contar com a compreensão da família e até das minhas amigas", disse.

Cerca de 700 mil meninas se tornam mães a cada ano no país. Aproximadamente 27% dos partos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em 1999, foram em adolescentes de 10 a 19 anos. Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos.

Gabriela teve que superar o medo de contar a novidade para os pais, de perder o namorado e até mesmo o emprego. "Eu tinha conseguido o meu primeiro emprego, estava há um mês trabalhando. Eu fiquei desesperada, pensando que ia dar tudo errado, que meu pai não ia me aceitar, que o meu namorado ia me abandonar", disse.

Seis meses depois que teve o filho, Gabriela teve que buscar apoio psicológico para aprender a lidar com as mudanças. "Eu entrei em depressão. Eu não queria ter filho, mas assumi e tive. Eu não estava conseguindo colocar em ordem a minha vida. Eu tinha um ritmo e tive que entrar em outro. Foi muito difícil", contou Gabriela.

Apesar da maior liberdade entre pais e filhos e da divulgação de informações sobre sexo, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez, os jovens ainda enfrentam dificuldades para falar sobre o assunto. "Acho que foi mais por falta de informação, principalmente dentro de casa. Eu comecei minha vida sexual muito cedo, foi meu primeiro namorado". Na época em que engravidou, tomava pílula que obteve num posto de saúde. Sem saber exatamente como usar o medicamento, ela disse que não tomava o comprimido diariamente.

Da sua própria experiência, a jovem tirou uma lição importante para seu futuro. "Acho que as mães que têm filhos adolescentes têm que parar e conversar com eles. O que faltou para mim foi um ‘empurrão’, me pegar e falar: ‘calma, não é assim!", ponderou.

Hoje, Gabriela é integrante da organização não-governamental Mulheres Jovens Trocando Idéias, em Belo Horizonte (MG). Ela acredita que se, há dois anos, tivesse tido acesso a um grupo como esse, que discute e troca idéias sobre assuntos ligados ao universo feminino, teria superado com mais facilidade a maternidade na adolescência.

A falta de serviço de saúde sexual e reprodutiva específico para os jovens é uma das causas para a gravidez precoce, na avaliação da coordenadora de Comunicação da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, Mônica Maia. A rede é uma articulação política que reúne mais de 250 entidades feministas não-governamentais de todo o país.

"Esse fenômeno do aumento da taxa de natalidade entre adolescentes não tem uma explicação única. Ele ocorre por uma série de fatores", afirmou Mônica. Entre os fatores, ela destacou a falta de qualidade de vida das adolescentes, que não têm possilidades de estudo e trabalho. E ainda o valor dado à maternidade como um dos aspectos indispensáveis à realização e à felicidade das mulheres. "Se o ambiente doméstico é muito violento, muito repressor, a gravidez também pode ser uma estratégia para sair de casa", acrescentou.

Segundo Mônica, o atendimento dado hoje aos adolescentes é inadequado. Um adolescente que procura um posto de saúde para ter acesso a métodos contraceptivos, por exemplo, tem que participar de um grupo de planejamento familiar sendo que ele está numa fase de vida em que esta questão ainda nem está sendo pensada.

Na avaliação de Mônica Maia, o ideal seria criar um serviço que atenda às necessidades dos jovens. "Hoje, existe uma posição muito moralista porque, na medida em que não se reconhece a vivência sexual na adolescência, não é possível dar acesso a métodos e informações de qualidade para esses adolescentes", afirmou.

Mônica acredita que o apoio social e emocional às adolescentes que ficam grávidas é fundamental para que a maternidade não traga graves conseqüências. "A gravidez, em si, não é prejudicial à adolescência porque em termos orgânicos, fisiológicos a primeira menstruação marca a maturidade reprodutiva".

O que agrava a maternidade na adolescência, avalia Mônica, é o tipo de apoio familiar, a forma que o sistema de saúde conduz o pré-natal e a estrutura disponível como creche, a aceitação da mãe adolescente na escola. "É esse conjunto de respostas sociais e comunitárias que pode ocasionar problemas e mais dificuldade em lidar com essa maternidade", disse a coordenadora.

09/10/2004 - 7h59

Tabela pode revelar hábitos alimentares da população

Saulo Moreno
Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco), divulgada nesta sexta-feira (8) pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, mostra os componentes e valores nutricionais de 198 produtos, inclusive os da cesta básica. Para o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, José Baccarin, um dos grandes valores da tabela é revelar a qualidade nutritiva dos produtos de cada região. "Se você comparar os dados da tabela com os hábitos alimentares da população, você pode saber se ela está comendo mais adequadamente", disse o secretário. Outra inovação da tabela é revelar o percentual de gorduras trans (que sofrem transformação na estrutura química e fazem mal à saúde) dos alimentos industrializados.

A lista foi desenvolvida pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Universidade de Campinas (NEPA/Unicamp), a partir de incentivos dos ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Até agora, essa primeira fase consumiu cerca de R$ 1,5 milhão e inclui menos de 10% dos alimentos à disposição da população em todo o país. Numa próxima fase, serão relacionados mais 200 produtos e até 2006, a Taco deverá contar com 700 itens.

Destinada mais aos profissionais de nutrição e medicina, a Tabela Brasileira de Composição dos Alimentos vai permitir a elaboração de dietas e tratamentos mais eficazes. Até agora, os dados sobre a composição dos produtos nacionais eram todos baseados em traduções de tabelas norte-americanas, onde os alimentos e os hábitos da população são diferentes.

A idealizadora da tabela, a professora da Unicamp, Maria Antônia Galeazzi, vai mais além. Ela diz que a Taco, além de atender os profissionais de saúde e nutrição e a própria população com um conhecimento mínimo sobre valores nutricionais, pode ser muito útil na área de produção. "Nas cooperativas agrícolas, se os agricultores conhecerem o teor dos alimentos que estão produzindo, eles podem dar maior incentivo para que a população consiga consumir esses alimentos, que são mais adequados, mais saudáveis e com maior teor nutricional", avalia.

Segundo ela, o próximo passo no desenvolvimento da tabela será pesquisar alimentos caracterizados como produtos regionais. Os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e combate à Fome vão investir mais R$ 2,38 milhões em pesquisas de novos produtos. A Taco está à disposição de toda a população em três endereços eletrônicos: os sites dos ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social e Combate À Fome e da Unicamp.

Divulgar conteúdo