Lula: fome no Brasil não pode ser medida por institutos de pesquisa

20/12/2004 - 20h31

Gabriela Guerreiro
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje que a fome no Brasil não pode ser medida por institutos de pesquisa, pois "a fome quem sente é quem passa fome, e nem todo mundo que passa fome reconhece que passa fome".

Na semana passada, o IBGE divulgou que 40,6% dos brasileiros estão obesos e o presidente do Instituto, Eduardo Pereira Nunes, disse, na ocasião, que a pobreza não se manifesta no país por meio da fome, mas sim em termos de qualidade de vida e de desigualdade de rendimentos.

Na opinião de Lula, nem todo brasileiro reconhece que passa fome: "Pode colocar o Ibope, o Datafolha, o Vox Populi, pode colocar todos os institutos de pesquisa para saber se as pessoas estão com fome e possivelmente o resultado seja negativo. Negativo, dizendo que todo mundo come bem. Não é todo ser humano que reconhece que passa fome. As pessoas têm vergonha. As pessoas não sentem orgulho de dizer: "Eu passo fome. Eu não comi as calorias e proteinas necessárias".

Durante celebração de Natal com os funcionários da Presidência da República, o presidente atribuiu o problema da fome no Brasil à baixa renda da população. "Por que resolvemos dar dinheiro e não cesta básica? É porque no Brasil nós não temos problemas de alimento. Nós produzimos per capita alimento para sustentar toda a sociedade brasileira, nós entendemos que o que falta é poder de compra de uma grande parcela da sociedade", ressaltou.

Lula reiterou a disposição de dar prioridade ao combate à fome em 2005 e disse que o Programa Fome Zero somente será desativado pelo governo federal depois que todos os brasileiros puderem fazer três refeiçoes por dia:

"O dia que eu tiver certeza de que todas as crianças estão tomando café de manhã, almoçando e jantando, não precisa ter programa Fome Zero mais. Nós vamos continuar com a mesma força, com o mesmo vigor, tentando cumprir a meta que estabelecemos de atender as 11,4 milhões de famílias que, segundo o próprio IBGE, não têm condições de comer as calorias necessárias. Quando atingirmos esse número, aí vamos ver se precisamos dar mais ou precisamos diminuir",
Segundo Lula, o governo não tem interesse de manter a Bolsa Família a longo prazo. "Deus queira que um dia ninguém precise mais do Bolsa-Família, do cartão do Fome Zero, que todas as pessoas estejam trabalhando e comendo à custa do seu trabalho".