Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (Abraço), defende a criação do sistema nacional de rádio digital com aadaptação de tecnologias brasileiras. "Cabe ao governo não comprar umpacote pronto do Iboc (modelo de rádio digitalnorte-americano), mas criar um sistema brasileiro de rádio digital",afirma o coordenador jurídico da entidade, Joaquim CarlosCarvalho. Segundoele, a proposta apresentada pelo governo no processo de digitalização exclui as rádios comunitárias, poisatualmente não existe um transmissordigital capaz de atender as essas emissoras. Carvalho explica que o menor transmissor disponível no mercadoé compatível a uma potência de 100 watts,enquanto as rádios comunitárias trabalham com 25 watts."Para garantir que as rádios comunitárias possamse digitalizar, devehaver uma mudança da lei, aumentando a potência dessas emissoras para 100 watts. Senão isso ocorrer, o processo de digitalização vai excluir todas essas emissoras e toda a sociedade quedepende deste sistemade comunicação", defende Carvalho.Outroempecilho para as rádios comunitárias se adaptarem ao sistema digital, segundoCarvalho, é o custo de implantação. Ele diz que, além do codificadordigital, que custa de US$ 60 a US$ 120, as emissoras que trabalham com sistema de válvula terão de trocar todaa tecnologia, o queresultaria em gastos de cerca de R$ 1 milhão. "Quem se beneficia com o processo são asgrandes emissoras, a as pequenas e médias vão ser atropeladas", afirma.Orepresentante da Abraço diz que o número de rádios comunitárias no país ainda é pequeno. Segundoele, o fato de apenas metade dos municípios brasileiros contarem com rádioscomunitárias demonstra a inoperância do governo ao movimento de radiodifusãocomunitária. "Em quase dez anos da lei 9.612, não há rádios comunitáriasnem na metade de municípios brasileiros, enquanto isso existem mais de 20 mil entidades que requereramjunto ao Ministério dasComunicações a outorga e até agora não foram atendidas", afirma.Carvalhotambém argumenta que, levando em conta a capacidade instalada das emissoras, oalcance das rádios comunitárias é muito menor que o das emissoras comerciais."Multiplicando o número de rádios comunitárias existentes pela suapotência, a potência instalada de transmissão não representa nem a potência de uma única rádiocomercial", explica.Uma pesquisadivulgada no mês passado pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) revelou que em 48,6% dos municípios brasileiros existemrádios comunitárias, superando pela primeira vez as emissoras comerciais de FM (34,3%) e as de AM (21,2%).