Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O valor do aço para navegação cobrado pela única fornecedora brasileira, a Usiminas, está afetando negativamente a possibilidade do Brasil se tornar um ator com mais peso no mercado global de navios. A avaliação é do deputado federal Edmilson Valentim (PCdoB-RJ), integrante da Comissão de Minas e Energia da Câmara. “O preço do aço está nos impedindo de nos tornarmos competitivos na construção naval. Não podemos, tendo aqui minério de ferro em profusão e um parque siderúrgico consolidado, termos justamente o aço como um limitador do nosso crescimento em vários setores e, particularmente, naval e offshore”, disse Valentim.Ele reconheceu que a carga tributária incidente sobre o processo ajuda a aumentar o preço final no mercado interno, o que não acontece quando se exporta, pois as vendas ao exterior são livres de impostos, mas disse que a questão é de interesse nacional e deve ser achada uma solução. “Devemos enfrentar este problema [monopólio privado do aço] com o projeto de desenvolvimento econômico do PAC [Plano de Aceleração do Crescimento]. Devemos sentar à mesa representantes do setor naval, governo e siderúrgicas. Elas [siderúrgicas] não podem desconhecer - à revelia de serem empresas privadas hoje - que o preço do aço tem sido um entrave ao crescimento da nossa indústria”, afirmou o deputado.Outra crítica da concentração da produção em uma única empresa é a ex-deputada federal Jandira Feghali, atual secretária de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói (RJ), município que abriga os principais estaleiros do país. “Nós lutamos muito para termos o conteúdo nacional nas licitações e acabamos ficando reféns de um monopólio privado nacional, que são as empresas de aço. É uma negociação dura e tem sido difícil”, reclamou Jandira. A solução para o problema, porém, não é simples e pode demorar ainda um tempo, segundo o engenheiro Carlos Padovezi, diretor do Centro de Engenharia Naval e Oceânica, do Instituto de Pesquisa Tecnológica da Universidade de São Paulo (USP).“Nós estamos em um processo de retomada de crescimento da indústria naval, portanto, com uma demanda importante concentrada nestes primeiros tempos, e há necessidade de um equilíbrio entre oferta e demanda. Num primeiro momento é normal que haja falta de aço no mercado interno, portanto com um custo mais alto”, disse Padovezi.Ele reconhece que, no momento só a Usiminas fabrica chapas grossas usadas na indústria naval, mas acredita que a tendência é haver novos fornecedores. “Com a retomada da indústria da construção naval e a necessidade de se ter essas chapas especiais, devemos ter mais oferta, inclusive com outras indústrias se colocando como fornecedores”, disse o engenheiro da USP.Para ele, o monopólio da iniciativa privada no setor é uma coisa temporária, que vai ser resolvido, pela retomada da produção de navios. “Não se consumia muitas chapas desse tipo e, de repente, surge uma procura muito grande em curto espaço de tempo. Outras siderúrgicas podem entrar no mercado, desde que haja a garantia de consumo”, explicou ele, para quem a importação é uma solução apenas temporária. “Para o país é ruim importar aço, quando se é rico em minério de ferro. É uma involução no desenvolvimento econômico”, afirmou.“Se a Transpetro for obrigada a fabricar os navios lá fora, prejudicará o mercado interno. É um alerta para o governo incentivar buscas de soluções o mais rápido possível, para se obter aço no Brasil a preços adequados, para que não se encareça muito os navios que vão ser fabricados aqui”, completou.A opinião do engenheiro da USP é compartilhada pelo diretor de Transporte Marítimo da Transpetro, Agenor Junqueira. “A Transpetro precisa modernizar sua frota, mas não simplesmente comprar navios. Nós temos um compromisso com o país, com a indústria brasileira e o governo federal. Nosso programa tem como premissa que as embarcações devem ser construídas aqui com conteúdo local de 65%” disse Junqueira.“Precisamos de navios com preços competitivos. Nós queremos o mesmo preço que o aço é exportado. Não é justo que nós paguemos aquele preço [oferecido no mercado interno]. Não queremos nenhuma benesse. Porque, caso contrário, não vamos chegar ao nosso objetivo de termos um indústria competitiva internacionalmente”, completou.