Preço do aço pode prejudicar indústria naval brasileira, alerta presidente da Transpetro

07/10/2007 - 17h22

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A indústrianaval brasileira vive um de seus melhores momentos nos últimos20 anos, com a reativação de estaleiros que estavamquase falidos, a criação de novas empresas e acontratação de milhares de trabalhadores especializadosque haviam perdido os empregos. O setor que chegou a ter somente 2mil funcionários há sete anos, hoje emprega 36 mil,devendo chegar a 40 mil em 2008. Mas esta euforia, que começouem 2003, com a decisão do presidente Luiz Inácio Lulada Silva de construir plataformas e navios da Petrobras no Brasil –antes eram feitos no exterior – corre o risco de sofrer umadesaceleração, por causa do preço do açousado nas embarcações, que chega a custar aqui 30% amais do que é vendido no exterior.O aço respondepor cerca de 22% do custo final de um navio. A possibilidade do setorenfrentar um gargalo de crescimento pelo alto custo do aço vemsendo denunciada pelo presidente da Transpetro, SérgioMachado, que não aceita pagar mais pelo produto no mercadointerno do que é vendido no exterior. Para ele, éinadmissível que o Brasil ponha em risco um programa como o daindústria naval, principalmente quando o país éum dos maiores produtores mundiais de minério de ferro. Adisputa ocorre entre a Transpetro, que sacudiu o mercado ao anunciaro Programa de Modernização e Expansão da Frota -a compra de 42 navios de grande porte, sendo 26 deles jálicitados e prontos para serem iniciados -, e a Usiminas, únicasiderúrgica brasileira que fornece a chamada chapa grossa,usada em navios e plataformas.A encomenda daTranspetro - subsidiária da Petrobras encarregada pelalogística e transporte de petróleo, gás ederivados - injetou, só neste primeiro momento, R$ 1,9 bilhãono setor. E o segundo lote de encomendas deve ser anunciado em breve,com pelo menos outros 16 navios. Para SérgioMachado, se a Usiminas insistir em manter o preço do açonas alturas, a única saída vai ser importar o produto.“Nós queremos que os nossos estaleiros sejam competitivos,de forma que comprem o aço pelo mesmo preço que ocoreano, o chinês ou o japonês. Nós faremos tudopara comprarmos o aço do Brasil, mas se as siderúrgicasnão chegarem ao preço internacional, nós vamosimportar. O preço vendido aqui é mais caro do que láfora”, aponta o presidente da estatal.A guerra contra o preçodo aço foi endossada pelo secretário estadual deDesenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro, JúlioBueno, que adiantou que deve adotar medidas para facilitar aimportação de aço para os estaleiros, como aredução a zero do Imposto sobre Circulaçãode Mercadorias e Serviços (ICMS). “Nós vamos darcompetitividade igual para o aço importado e o produzido noBrasil. Isso porque o aço aqui está mais caro. Aperspectiva de crescimento da indústria naval éfundamental. Então tem que ter um acordo, para que o valoraqui seja o preço internacional. Ninguém estápedindo para o preço ser menor”, disse Bueno. A medidaprecisa ser aprovada pelo governador do estado, SérgioCabral, para zerar a alíquota de importação doaço.Segundo levantamentofeito pela assessoria do secretário Júlio Bueno, umachapa grossa com 6,5 milímetros de espessura, por 2,75 metrosde largura e 12 metros de comprimento custa US$ 1.025 no exterior (jácom o frete), contra US$ 1.442 cobrados pela Usiminas – umadiferença de 29%. E foi a vantagem deimportar o aço para navegação que motivou oestaleiro Aker-Promar, especializado na construção denavios de apoio, a comprar cerca de 4 mil toneladas do produto naRomênia, em vez de adquirir da Usiminas. Segundo o diretor daempresa, Wanderley Marques, a economia – já descontando ovalor do frete - foi ao redor de 15%. “Hoje é melhorimportar. O preço do aço subiu barbaramente. Se nãoresolver este problema, vamos ter que importar o produto, pois nãoé possível que o preço que [a Usiminas] colocalá fora seja mais barato do que o vendido aqui.De acordo com o diretordo Aker, para um navio pequeno, que usa até mil toneladas deaço e custe US$ 30 milhões, a diferença no preçodo produto representa cerca de US$ 100 mil, o que pode nãocompensar a importação, que requer toda uma burocraciapara se concretizar. Mas, segundo ele, para uma embarcaçãoque pese mais que 3 mil toneladas de aço, essa diferençachega a US$ 1 milhão, o que deixa a empresa fora do orçamentoinicial oferecido ao cliente. “Essa diferença vai consumirparte do lucro e até gerar prejuízo. O preçosubiu muito rápido e quando se fez o orçamento nãose contemplou o aumento. Pode representar um gargalo àsempresas”, alerta o diretor do Aker-Promar.A Usiminas foiprocurada pela reportagem para falar sobre o assunto, mas aassessoria de comunicação da empresa disse que o gruponão iria se manifestar.