Brasília, 16/8/2005 (Agência Brasil - ABr) - A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga a compra de votos no Congresso Nacional pedirá à Corregedoria da Câmara de Deputados abertura de processo administrativo contra o assessor legislativo e ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas. Funcionário público, com salário médio mensal de R$ 20 mil e um patrimônio de R$ 1 milhão, Lamas depôs nesta terça-feira na CPMI por cerca de nove horas.
Durante o depoimento, ele admitiu ter transportado dinheiro a pedido do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, e reconheceu o repasse de recursos do partido destinados à compra de mobília para a casa de Costa Neto. Acompanhado por um advogado pago pelo PL, Jacinto Lamas contou que por determinação do presidente do partido esteve por diversas vezes na agência do Banco Rural em Brasília, em um hotel na capital e na sede da empresa SMP&B em Belo Horizonte.
Nesses locais, informou, recebia em envelopes cheques ou dinheiro, repassados por funcionários do empresário Marcos Valério supostamente a pedido do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Eu levava sempre os envelopes diretamente para o Valdemar, na casa dele em Brasília ou em São Paulo", contou Lamas.
O assessor parlamentar disse ter sido informado pelo presidente do PL de que o dinheiro dos envelopes seria usado para acerto contas da campanha da 2002. Jacinto Lamas, no entanto, não soube dizer quanto dinheiro sacou e como os recursos foram utilizados. Na contabilidade dele, o volume de dinheiro que transportou não teria ultrapassado os R$ 2 milhões. Pelas contas do empresário Marcos Valério, teriam sido cerca de R$ 10,5 milhões.
Os integrantes da CPMI demonstraram insatisfação com o depoimento do ex-tesoureiro do PL e chegaram a propor uma sessão fechada para que Lamas fizesse revelações, podendo ser beneficiado com redução de pena. O ex-tesoureiro do PL não aceitou a sugestão e disse ter falado tudo que sabe.
Para o relator da CPMI, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), a atividade desempenha pelo ex-tesoureiro, aparentemente, não pode ser considerada lícita. "Os deputados insistiram muito para que ele revelasse quem de fato tinha recebido os recursos e quais despesas justificaram o pagamento. Mas ele negou conhecer o destino do dinheiro", lamentou Abi-Ackel.