Sarney defende Lula e diz que país vive crise mais grave dos último 50 anos

16/08/2005 - 17h23

Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O senador José Sarney (PMDB-AP), ex-presidente do Congresso e ex-presidente da República, disse, hoje (16), na tribuna do Senado, que a crise política vivida pelo país é "uma das mais graves" presenciadas por ele em 50 anos de vida pública. "Vivemos uma crise de conduta, de caráter, de comportamento, de valores morais, de procedimentos que violam o sistema de partidos, desmoralizam a democracia representativa. É uma crise de homens e não de estruturas", afirmou o senador.

Sarney dedicou boa parte de seu discurso na defesa da trajetória política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo o ex-presidente da República, "não há na conduta do presidente Lula nada que, nem de leve, possa atingir o seu mandato. Nenhum crime de responsabilidade". José Sarney afirmou, ainda, que Lula "está pagando os erros de seu partido".

A eleição de um operário para a Presidência da República, em 2002, significou, no entender do senador, "o grande marco que coloca as camadas de base do povo no poder sem uma revolução". Acrescentou que Lula não se apresentou ao Brasil "numa aventura pessoal, sem passado, sem um projeto de futuro". Ele disse, também, que não se pode perder de vista as raízes do presidente Lula com "o povo brasileiro e a classe trabalhadora".

Neste sentido, Sarney ressaltou que "Lula representa uma das realizações maiores da democracia, a de que as classes operárias não são mais representadas por delegados e tutores, mas assumem como os próprios detentores desse espaço". O senador destacou que, sob este aspecto, Lula "é o símbolo e a razão de um grande avanço institucional e político do Brasil".

Ao mesmo tempo em que ressalta a importância política e histórica do presidente Lula para o país, Sarney ressaltou a necessidade de uma investigação rigorosa das denúncias de corrupção. Ele defendeu que parlamentares que comprovadamente tenham recebido "recursos bancários" de forma obscura afastem-se da vida pública. "Estes deviam ter a coragem de admitir e, sabendo que é impossível contarem com a convivência ou complacência do Congresso, se afastar da vida pública. Não vejo como possam fugir de uma punição exemplar da Casa a que pertençam no parlamento", completou.

José Sarney advertiu, entretanto, que a luta contra a corrupção, apesar de urgente, não pode ser tomada como uma luta pelo poder. "A guerra contra a corrupção não pode ser utilizada como instrumento, nem a curto nem a médio prazo, para a promoção pessoal ou partidária, sob pena de falhar em seus objetivos", afirmou o ex-presidente do Senado.

"Sob esse aspecto vejo com grande confiança, nos homens públicos do nosso país, a decisão de não transformar esta luta numa batalha contra o presidente, numa busca de expulsá-lo do governo".