Energia elétrica mudou realidade de comunidade quilombola no Pará

16/08/2005 - 7h37

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As frutas são uma das principais riquezas naturais da região onde vive a comunidade quilombola Murumurutuba, localizada numa área a cerca de 40 quilômetros de Santarém (PA). Até o final do ano passado, porém, o que não era consumido pelos 373 moradores acabava desperdiçado, porque, pela falta de energia elétrica, eles não tinham como armazenar o excedente para comercializá-lo na cidade.

Cerca de oito meses depois, a comunidade já consegue ganhar com o excedente que não aproveita para consumo próprio e até vislumbra a inauguração de uma agroindústria no segundo semestre de 2006 para aumentar o beneficiamento de frutas e a produção de polpa.

As mudanças são resultado do programa Luz para Todos, criado pelo governo federal para acabar com a exclusão elétrica no meio rural. "Ter energia elétrica era um sonho da gente, mas parecia muito distante, porque moramos longe da cidade e ainda por cima somos uma comunidade quilombola", lembra o líder comunitário Mário Fernando Martins. Segundo ele, antes de a energia elétrica chegar lá, os alimentos eram conservados no sal ou em gelo trazido da cidade. "Essa era uma questão muito difícil para a comunidade, porque a gente tem muitas frutas e a maior parte dessa produção, que não era comercializada, estragava, porque não tinha como conservar", conta.

De acordo com Martins, depois que a energia chegou a Murumurutuba, muitos produtores locais perceberam que vender a polpa era mais rentável que comercializar a fruta in natura e, dessa forma, aumentaram a renda familiar. "A gente já tem freezer, geladeira, então em vez de vender a fruta, que tem um preço menor, a gente vende a polpa".

Outra dificuldade que a população conseguiu superar foi a falta de luz durante as aulas à noite. O líder comunitário é professor de jovens e adultos e leciona no período noturno. Segundo ele, a saída era usar uma bateria de carro. "A gente comprou uma lâmpada e ligava na bateria. E era uma só uma lâmpada para atender 25 alunos, era muito difícil mesmo, mas não tinha outra opção. E mesmo assim, com muita dificuldade, conseguimos chegar ao final do ano", recorda.

Os moradores de Murumurutuba estão entre os cerca de 1,3 milhão de brasileiros que foram atendidos pelo programa Luz para Todos. A meta é beneficiar, até 2008, 10 milhões de pessoas que vivem no meio rural, com prioridade para os assentamentos remanescentes de quilombolas e indígenas e para os municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).