Gabriela Guerreiro e Iolando Lourenço
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto que reajustava em 15% os salários dos servidores do Poder Legislativo e do Tribunal de Contas da União (TCU) dividiu os parlamentares. Enquanto o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criticou publicamente a decisão, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), prometeu votar um plano de cargos e salários para compensar a perda dos servidores. Entre os aliados, o clima é de apoio à decisão presidencial. Na oposição, o veto provocou a reação contra o governo federal.
O vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL), disse que vai apresentar à Mesa Diretora da Câmara uma proposta para que as duas Casas Legislativas realizem sessão especial com o objetivo de derrubar o veto presidencial. "Lula está se esquecendo do servidor público. Eu conclamo que os servidores não se esqueçam dele", afirmou.
Já o vice-líder do PFL na Câmara, Pauderney Avelino (AM), preferiu adotar um tom favorável à decisão de Lula. O deputado que o reajuste salarial não estava previsto no Orçamento Geral da União, nem na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Segundo ele, seria necessário um adicional de R$ 130 milhões na Câmara para que o aumento salarial fosse concedido. "Aumento de despesa pressupõe aumento de carga tributária. E eu sou contra", ressaltou. De acordo com Pauderney Avelino, se o governo federal concedesse o reajuste para o Legislativo, haveria pressão dos outros poderes para novos aumentos salariais.
O mesmo argumento foi utilizado pelo líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), para defender o veto presidencial. "Acho que o presidente colocou os prós e os contras do reajuste na balança e verificou que a decisão dele, mesmo causando prejuízo na relação com o Legislativo e insatisfação junto aos servidores deste poder e do TCU, para ele, é melhor enfrentar esse desgaste do que abrir uma porta para pressões mais fortes por aumentos em outros órgãos", afirmou.
Para Casagrande, o Congresso Nacional deve "esfriar a cabeça" antes de tomar qualquer decisão sobre a possibilidade de tentar derrubar o veto. "Não acho que o caminho seja derrubar. Temos que buscar alternativas de solução, e não fazer enfrentamento entre Executivo e Legislativo. Não é tarefa fácil colocar o veto em deliberação", enfatizou.
O líder da Minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), disse que não trabalha para derrubar o veto, mas criticou a postura do presidente Lula, por ter vetado uma matéria que, segundo ele, foi apresentada pelo próprio Partido dos Trabalhadores. "Essa proposta de aumento foi do presidente João Paulo (PT-SP), do partido de Lula. Eles estão se engalfinhando. Eu não vou me meter nisso. Eu gostaria que ele tivesse austeridade em relação a todos os gastos públicos, e não só em relação aos servidores públicos", criticou.