Cecília Jorge
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O deputado federal Jamil Murad (PCdoB-SP), secretário-geral da Liga Parlamentar Árabe Brasileira, disse que a Cúpula América do Sul-Países Árabes serviu para consolidar a aproximação do Brasil com a região árabe. Segundo ele, a relação com os países árabes começou a crescer a partir da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região, em 2003. "Em 2004, o comércio aumentou em 50% com os países árabes, atingindo 8,2 bilhões de dólares", afirmou.
Murad participou na noite desta quarta-feira do programa Diálogo Brasil, exibido em rede pública de televisão a partir da TV Nacional, em Brasília, com a parceria da TV Cultura, em São Paulo, e da TVE Brasil, no Rio de Janeiro.
O deputado ressaltou que as duas regiões ainda têm muito a ganhar com o crescimento das relações comerciais. Ele lembrou que nos países árabes vivem cerca de 300 milhões de pessoas e, na América do Sul, 360 milhões. "O jogo só está começando e essa foi a sacada do encontro entre países sul-americanos e países árabes".
Do ponto de vista político, Murad disse que a ausência de representantes de países desenvolvidos, como os Estados Unidos, foi importante para se construir uma alternativa tanto comercial quanto política ao unilateralismo. "Reunir os países em desenvolvimento para sair do ‘guarda-chuva’ ou da tutela norte-americana ou dos países ricos é uma grande vitória", afirmou.
Para o secretário-geral e diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby, que participou do programa em São Paulo, a política externa dos países em desenvolvimento deve somar forças e não criar rivalidades. "O importante é tentar aproximar da América do Sul novas oportunidades de relacionamento e nunca confrontar com Estados Unidos e Europa", alertou.
O senador Cristovam Buarque (PT-DF), presidente da Comissão de Relações Internacionais e Defesa Nacional do Senado, disse que representantes de outros países poderiam ter participado da cúpula como observadores. Cristovam defendeu que o governo brasileiro precisa ter mais "sutileza diplomática". "A reunião foi um marco não apenas para o Brasil foi um marco internacional, sem dúvida. Eu acho que faltou um pouquinho de diplomacia", afirmou o senador. "Diplomacia é o que falta para o Brasil. É o que faz com que as relações funcionem. A política só não faz funcionar", argumentou.
Para Cristovam Buarque, essa falta de diplomacia é uma das razões para que o país tenha dificuldade de avançar em questões como a de conseguir apoio para se candidatar a vagas em organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas (ONU). "Nós estamos pecando também na sutileza diplomática de não mostrar à Argentina que o Brasil ter um assento no Conselho de Segurança da ONU pode ser positivo para a América Latina", comentou.
O presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), José Botafogo Gonçalves, que foi embaixador do Brasil na Argentina até o ano passado, também avaliou que o país precisa ter mais cuidado em suas relações diplomáticas. "Nós gostamos de tomar as decisões e depois consultar se gostaram", afirmou Gonçalves. "Nós temos que compartilhar as decisões com os nossos vizinhos", disse.
Em relação à declaração contra o terrorismo assinada por todos os países que participaram da cúpula, o embaixador disse que o fato de o documento reconhecer o direito de países e povos de resistir a ocupações estrangeiras não o transforma em uma declaração contra Israel. "Não há nenhuma novidade em relação ao que já foi expresso pela diplomacia brasileira e até pela européia. Não houve também endurecimento", afirmou José Botafogo Gonçalves. O senador Cristovam Buarque disse que a declaração é clara ao se manifestar contrariamente a qualquer tipo de terrorismo e que, por isso, a resistência a ocupações não pode usar desse mecanismo. "O Brasil prestou um grande serviço a Israel ao reunir países árabes que assinaram uma declaração contra o terrorismo", declarou o senador.