Países do Mercosul devem retomar diálogo sobre cidadania, sugere professor

03/05/2005 - 20h17

Brasília, 3/5/2005 (Agência Brasil - ABr) - O professor Ricardo Seintenfus, da Universidade Federal de Santa Maria (RS), sugeriu hoje que os países integrantes do Mercosul abandonem as desavenças e tratem de questões de interesse geral, como a cidadania, para retomar o diálogo. "O Mercosul hoje trata única e exclusivamente de questões comerciais e tarifárias. Nós temos que destarifar o Mercosul", afirmou, e acrescentou: "O Mercosul está morrendo, está debilitado e isso muito por ação e inação do governo brasileiro".

Em entrevista à Agência Brasil, ele comentou que a Argentina está chamando a atenção para a crise das relações bilaterais com o Brasil no âmbito do Mercosul. E na opinião do professor, nos últimos dois anos o Brasil não só não se mobilizou para consolidar o Mercosul como tem dado prioridade a Comunidade dos Países Sul-Americanos.

"Talvez a Argentina salve o Mercosul com essa crise, porque se deixar o destino do bloco somente nas mãos do Brasil, nós teremos uma péssima surpresa; nós vamos ver o governo brasileiro se desinteressar da forma como já está se desinteressando. Nós não podemos perder de vista que essa estratégia pode prejudicar o Mercosul. Ou seja, o Mercosul é algo de concreto, de objetivo, que precisa ser aprofundado, e o governo brasileiro está dando a impressão de privilegiar a Comunidade Sul-Americana de Nações", disse.

De acordo com Seintenfus, os países que integram o Mercosul devem deixar as desavenças para trás e tratar de questões de interesse geral, que envolvem além da cidadania o desenvolvimento, a segurança, a luta contra a corrupção. "E que não tragam dissabores", acrescentou.

O professor lembrou que o novo governo do Uruguai, da esquerda latino-americana, tem uma proposta clara sobre a institucionalização do mercado comum, mas ressaltou que o posicionamento favorável do Brasil é imprescindível. "O governo do Uruguai, que é de um pequeno país, quer aprofundar o Mercosul e não deixá-lo permanecer nessa situação de queijo suíço, na qual não existe sequer uma zona de livre comércio ou uma união aduaneira. Mas o Uruguai não tem força para fazer com que essa proposta seja adotada, por isso é necessário uma nova postura do Brasil em relação o Mercosul", insistiu.

Sobre a oposição do governo argentino à pretensão do Brasil de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, Seintenfus disse que a questão é "delicada e traz muitas desavenças, faz ressurgir certos fantasmas com os quais nós devemos lidar, mas que devem ficar no campo político". E concluiu: "As questões do Mercosul são questões de conteúdo e definem o que nós queremos com as nossas relações na América do Sul. O Brasil deve deixar claro que não representa a América Latina, mas sim uma visão de paz e de relações internacionais que buscam o desenvolvimento e, sobretudo, encorajam e fortalecem o multilateralismo".