Keite Camacho
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A influência árabe sobre as culturas sul-americanas começou com a ocupação da Península Ibérica, durante oito séculos. Com a colonização do Brasil e de outros países do sul do continente americano, espanhóis e portugueses trouxeram hábitos árabes. A imigração de sírios, turcos e libaneses, a partir do século XIX, foi responsável por uma influência mais direta sobre os povos sul-americanos. Foram os inventores da bússola, do astrolábio e dos algarismos hindu-arábicos.
Apresentar essas culturas ao povo brasileiro, hispano-americano e árabe de 34 países é o objetivo da programação cultural preparada pelo Ministério de Relações Exteriores (MRE). Tudo ocorrerá em paralelo à Cúpula América do Sul Países Árabes, que começa na próxima segunda-feira (09) e terá duração de uma semana.
"A nossa idéia foi realizar em paralelo ao evento político, econômico e comercial, atividades que permitissem aos cidadãos tomar conhecimento (das influências árabes) com essa vertente importantíssima que é a vertente cultural", explicou o responsável pela área cultural da Cúpula, o embaixador Edgard Telles Ribeiro.
Ribeiro lembra que os árabes eram donos de uma "sabedoria científica e cultural imensa". Por exemplo, cita que "inventaram a bússola, o astrolábio, os algarismos hindu-arábicos. Deixaram lastros muito importantes. A importância (da cultura árabe para os povos da América do Sul) tem a ver com a influência que o universo árabe teve sobre as culturas sul-americanas."
Segundo o embaixador, essa influência é antiga e teve início com o domínio árabe na Península Ibérica. "Os árabes ocuparam, durante 800 anos, a Península Ibérica, na Espanha e em Portugal. Criaram profundas raízes nos povos espanhóis e portugueses que, posteriormente, nos colonizaram. Colonizaram o Brasil e o resto da América do Sul. Por meio desses filtros de colonização, muitos hábitos chegaram a nós. Essa influência ficou mais claramente marcada no século XIX, a partir da imigração."
O embaixador lembrou que foi nessa época que uma grande quantidade de imigrantes árabes chegaram ao Brasil e à América do Sul, para se estabelecerem no comércio. "Houve um processo mais deliberado e consciente de imigração de vários povos árabes, sírios, turcos, libaneses para países como Brasil, Argentina e muitos outros. Eram homens voltados para o comércio. Chegavam solteiros, faziam algum dinheiro e podiam trazer a família. Iam fazendo raízes e se integrando em nosso país", disse.
Para mostrar essa integração de árabes e sul-americanos, o MRE preparou uma série de atividades culturais em função da Cúpula. Uma mostra fotográfica, que vai desta terça-feira ao dia 22 de maio no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB); um festival de cinema árabe e sul-americano (com exibição de filmes do Egito, Líbano, Palestina, Argélia, Tunísia, Argentina, Peru, Colômbia, por exemplo); um concerto do Duo Assad (violonistas brasileiros descendentes de libaneses); e uma mesa redonda, com cineastas ou produtores árabes e sul-americanos.
"Dois festivais gastronômicos já aconteceram. Estamos espalhando antes, durante e após a Cúpula esses quatro braços da cultura (gastronomia, música, cinema e fotografia). É a primeira vez, na história das relações internacionais, que se realiza uma Cúpula desse tipo, entre países árabes e sul-americanos. Tudo o que se faz ao redor da cúpula também é a primeira vez. É a primeira vez na historia da arte da fotografia que se realiza uma mostra em que os vestígios, as influências de uma determinada cultura, no caso árabe, são demonstrados, refletidos em uma região geográfica, no caso a América do Sul. Nunca se fez isso antes, em nenhum país do mundo."
A programação do evento pode ser obtida no endereço eletrônico www.mre.gov.br
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