Acordo com EUA intensifica efeitos colaterais do etanol, criticam movimentos

08/03/2007 - 0h38

Bruno Bocchini
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Movimentos sociais e entidades da sociedade civil criticaram hoje (7) a proposta de parceria entre os Estados Unidos e o Brasil para a produção de etanol. Também apontaram problemas no atual modelo de produção do álcool no país. Em entrevista coletiva, representantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Via Campesina, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Fórum Brasileiro de Organizações e Movimentos Sociais para o Desenvolvimento Sustentável (Fboms), e a Marcha Mundial das Mulheres, condenaram a monocultura e defenderam um modelo de produção de biocombustíveis não apenas renovável, mas também sustentável.“Somos frontalmente contrários a essa forma de produzir energia, porque beneficia apenas os interesses do capital transnacional. Nós defendemos o uso do agro combustível de maneira sustentável, que respeite o meio-ambiente e, sobretudo, sob o controle das populações locais”, disse o representante da Via Campesina e do MST, João Pedro Stedile.Segundo dados da Via Campesina, cada 100 hectares de monocultura emprega uma pessoa, enquanto que em plantações de agricultura familiar, a mesma extensão dá emprego a 35 pessoas. "Podemos produzir energia a partir de produtos agrícolas, desde que produzidos em pequenas e médias dimensões, que não desequilibrem o meio ambiente e que representem uma maior autonomia dos camponeses no controle da energia e no abastecimento das cidades”.Em nota distribuída à imprensa, o MST condenou “veementemente” a visita do presidente norte-americano, George W. Bush, à América Latina. Segundo o texto, a iniciativa do governo norte-americano é "cooptar" e "seduzir" os governo locais a aumentarem a produção de álcool destinado aos EUA, “com o objetivo de manter o padrão do 'american way of life'”, diz o texto.Temístocles Marcelo Neto, representante da Fboms, considera que o processo de plantação em monocultura utilizado no país deixou lições que não devem ser esquecidas. “Com a implantação no passado do etanol, há ocorrência ainda hoje de trabalho infantil, trabalho forçado, e trabalho escravo, que são indesejáveis para uma sociedade que quer desenvolver beneficiando a maioria da população”, afirmou.O conselheiro da Comissão Pastoral da Terra, Dom Tomás Balduíno, classificou de sinistra a situação dos camponeses diante do avanço da monocultura. “Para o universo camponês é uma perspectiva sinistra, de destruição, de marginalização e de morte. Porque acaba a terra de viver e conviver. Que que vai sobrar desse cerrado, agora vai ter que ceder a essa pressão internacional”, considerou.