Brasil pode triplicar produção de álcool, mas precisa de planejamento, alerta especialista

07/03/2007 - 21h11

Luciana Valle
Repórter da Rádio Nacional
Rio de Janeiro - O Brasil pode dobrar e até triplicar sua produção de álcool nos próximos 15 anos, porém essa expansão não é infinita e precisa ser feita de forma planejada e cuidadosa, na avaliação do do professor José Goldemberg, do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP) e ex-secretário de Meio Ambiente do estado de São Paulo.Goldemberg forneceu vários números sobre o setor. O Brasil produz cerca de 17 bilhões de litros de álcool combustível porano. Segundo ele, essa produção reflete umaeconomia de cerca de 40% da gasolina que seria usada no país se oetanol não existisse.O especialista fez as avaliações em entrevista hoje (7) à Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Ele lembra que, além de ser um importante produto no mercado interno, o etanol tem preço competitivo. “A indústria está toda nas mãos da iniciativa privada, e não há praticamente qualquer subsídio à produção do álcool combustível como no passado, portanto, é um produto claramente competitivo”, afirma.Na avaliação de Goldemberg, Estados Unidos e Europa estão seguindo por um caminho que o Brasil já percorre há mais de 20 anos ao introduzir álcool na gasolina, como aditivo. A diferença é que, no caso dos EUA, o etanol é fabricado a partir do milho, e na Europa o produto é obtido da beterraba. Quanto ao milho, Goldemberg esclarece que o rendimento dessa produção é muito inferior ao do álcool obtido da cana-de-açúcar. “Para cada litro de álcool produzido é necessária uma quantidade mínima de combustíveis fósseis – obtidos através de pesticidas, fertilizantes -, o que resulta em um rendimento de 10 para 1. Nos EUA, essa relação é de 1/1”, esclarece ele. Por essa razão, ele aposta no grande interesse do mercado externo em obter o álcool do Brasil, que já exporta cerca de 15% de sua produção. “É possível que o programa brasileiro do etanol dobre a sua produção até o ano de  2011, sobretudo no estado de São Paulo, onde grande quantidade de usinas entrou com pedido de autorização de funcionamento”, informa ele. Goldemberg faz novas projeções a longo prazo: “A produção poderia ser triplicada até 2020”. Ele aponta que haverá problemas de natureza ambiental e na procura de terras adequadas. “A expansão do programa brasileiro do etanol é possível, mas não é infinita”, alerta. O especialista avalia ainda que seria importante espalhar a tecnologia de produção do etanol da cana-de-açúcar para outros países de clima temperado e tropical como o Brasil. Ao contrário dos EUA, onde o plantio da cana está restrito a poucas regiões, a matéria-prima do álcool combustível brasileiro encontra solo e clima adequados para crescer satisfatoriamente na América Latina, África e Índia, segundo Goldemberg.”Esses países estão produzindo açúcar da cana, mas não estão produzindo álcool”, completa. A grande ofensiva brasileira, na sua opinião, seria exportar a tecnologia de produção de etanol para esses países. Assim, o Brasil não ficaria sozinho e conseguiria abrir novas oportunidades de negócios nesse mercado mundial. Nesse aspecto, Goldemberg acredita que a visita do presidente Bush ao Brasil poderia resultar na expansão da atividade brasileira em outros países produtores de cana-de-açúcar – até mesmo na América Central – já que, na avaliação dele, as exportações brasileiras de etanol para os EUA não vão aumentar muito. “Os EUA estão fazendo muito pouco; estão colocando barreiras alfandegárias muito altas para impedir que o álcool brasileiro domine o mercado americano para proteger os fazendeiros que plantam milho. E isso, pelo que eu tenho lido nos jornais, os Estados Unidos não estão dispostos a mudar”, conclui.