Cientistas querem que país reveja apoio a resolução do Conselho de Segurança da ONU

04/03/2007 - 20h01

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O movimento pró-revisão da  proibição de fabricaçãode supercomputadores pelo Brasil, liderado pela Secretaria de Ciência eTecnologia do Estado do Rio de Janeiro, tem o apoio dos professoresSimone de Lima Martins e Jorge Fernandes, dos departamentos de Ciência da Computação das universidades Federal Fluminense (UFF)  e de Brasília (UnB), respectivamente. O governo  brasileiro é signatário da Resolução 1.540 do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Aprovada sob o argumento de evitar que nações hostis ameacem o planetacom armas nucleares, químicas ou biológicas, a resolução abre umabrecha para o controle da compra de componentes de computadores depaíses como o Brasil.A resolução foi aprovada pelos cinco membros permanentes doConselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, França, Reino Unido,Rússia e China).Para Simone Martins o país não pode ficar para trás nessatecnologia. “Seria muito interessante se a gente pudesse ter essafacilidade”. Mesmo para importar os componentes necessários aofuncionamento dos supercomputadores, o Brasil depende da aprovação dospaíses industrializados que detêm essa tecnologia.A professorada UFF acredita que, se o país começar a ficar impossibilitado deimportar os componentes para as várias máquinas que são ligadas porrede rápida na área da computação, “será o caos"."A gente não vai conseguir fazer mais nada. Vai ser um abalo muito grande para a gente”. SimoneMartins admitiu que o Brasil ainda está para trás na área de hardware(equipamento de informática). O mesmo não acontece  na área doentendimento da computação e da geração de softwares (programas), emque o país apresenta avanços tecnológicos.Opinião semelhante tem o professor Jorge Fernandes, da UnB. Ele disse à Agência Brasil que a resolução da ONU afeta mais diretamente os setores de física equímica fina, porque “os supercomputadores  são usados basicamentepara permitir a construção de modelos de  simulação maisrealistas”.Fernandes afirmou que quem detém essa tecnologia nãoquer que ela se expanda para outros países. Com isso, as naçõesemergentes em especial, entre elas o Brasil, se vêem privadas deavançar tecnologicamente. “Não tem muito sentido banir o uso decomputadores. O Brasil já é signatário do Tratado de Não Proliferaçãode Armas Nucleares. Ele nunca desenvolveu armas nucleares eprovavelmente nunca vai desenvolver. Mas os americanos  que tambémsão signatários têm seus modelos computacionais  supersofisticadose usam para desenvolver novos armamentos.  Agora, por que elesquerem eliminar isso dos outros países?”.Na análise deFernandes, a questão afeta a soberania dos países. Ele destacou que emse tratando de pensar o futuro de mais longo prazo, éinteressante  desenvolver esses supercomputadores. Indicou, porexemplo, sua importância na simulação dos fenômenos atmosféricos, porexemplo, para previsão do tempo, simulação de chuva, condições decolheita, tratamento de imagem. “Todas essas aplicações demandam o usode computadores poderosos”, apontou.Na área da química fina, ossupercomputadores são essenciais para a  descoberta de novosmedicamentos e casamento de padrões de DNA, que são aplicaçõesestratégicas de que “você não pode abrir mão”, destacouFernandes.  Ele considera válida a preocupação do  secretáriode Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, Alexandre Cardoso, nosentido de reivindicar  do governo que reveja a posição do país designatário da resolução da ONU.