Palma forrageira e restos de camarão podem virar pão e comida para animais

03/03/2007 - 17h23

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dois produtos comuns no Nordeste brasileiro estão sendoutilizados para a fabricação de pães e de ração para animais. Após pesquisasrealizadas pelo Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene), umaunidade do Ministério da Ciência e Tecnologia, a palma forrageira e os rejeitosde camarão são transformados em produtos nutritivos e com custo reduzido.A idéia de fazer pão com farinha produzida a partir datrituração da palma surgiu de um trabalho conjunto com um grupo de estudos doInstituto de Tecnologia Agroalimentar de Quebec, no Canadá. Segundo DanyellyBruneska Martins, pesquisadora do Grupo de Fermentação e Bioprocessos doCetene, a intenção foi unir a pesquisa na área alimentar realizada peloscanadenses com um produto brasileiro.Já o uso do camarão para fazer ração animal foi motivado porrazões econômicas. De acordo com o coordenador do Grupo de Fermentação doCetene, José Luiz de Lima Filho, as rações utilizadas na Região Nordeste sãofeitas com milho trazido do Sul do país, o que encarece o produto. Enquantoisso, os maiores produtores de camarão do Brasil estão na Região Nordeste. “Oprocessamento do camarão faz com que a cabeça e parte da casca sejamsimplesmente jogadas no meio ambiente. Como o camarão é rico em quitina, que é umcarboidrato, e também rico em alguns antioxidantes, a idéia foi fermentar essematerial, juntamente com alguns resíduos ricos em celulose da nossa região paraelaborar a ração”, explica o coordenador. Ele comenta que o projeto também temo objetivo de reduzir os impactos ambientais da indústria do camarão.A palma forrageira é uma planta comum no Nordestebrasileiro, especialmente em áreas de seca. Seus cascos grandes, em forma deraquete, são utilizados no interior do estado para alimentação do gado, poisretêm grande quantidade de água, e são fundamentais para manter os animaishidratados durante prolongados períodos de seca. Além de tornar o pão maisbarato, pois substitui até 10% da farinha de trigo na receita do pão, a farinhade palma forrageira é rica em vitaminas, carboidratos e fibras, e também é umafonte de energia. A idéia, segundo a pesquisadora, é unir levedura à farinhapara acrescentar proteína ao produto, tornando o pão ainda mais nutritivo.Outra questão levada em conta na fabricação do pão com palmaforrageira é o sabor do alimento. Por isso, as pesquisas estão sendo realizadasem conjunto com professores do Departamento de Nutrição da Universidade Federalde Pernambuco e professores de gastronomia da Universidade Rural. A aceitação doproduto pelo consumidor final também está em teste. “As pessoas que foramenvolvidas no teste sensorial acharam o pão muito saboroso, e nenhuma delassabia que se tratava de um pão de palma, pois o sabor não remete a nenhum tipode vegetal”, afirma a pesquisadora.A ração feita a partir de rejeitos de camarão poderáser utilizada para alimentar peixes, aves e gado. O produto ainda está sendotestado em pequenos aquários, mas, segundo José Luiz de Lima Filho, a intençãoé aumentar a produção. “Já vimos que o conteúdo é viável. Já produzimos emescala laboratorial, agora, vamos fazer uma escala maior, em uma fazenda pilotona Mata Sul de Pernambuco”, anuncia o coordenador.