Viúvas e filhas de ativistas rurais denunciam violência no campo durante lançamento de campanha

07/03/2006 - 23h14

Porto Alegre, 7/3/2006 (Agência Brasil - ABr) - Maria Joel da Costa, Edna Cavalcante, Elenira Bezerra Mendes e mais de 30 viúvas e filhas de ativistas assassinados e líderes rurais jurados de morte participaram hoje (7) do lançamento da Campanha Internacional de Combate à Violência no Campo no Brasil.

"Foi muito difícil criar quatro filhos sozinha, continuar em busca da terra e de justiça pelo assassinato de meu marido", denunciou Maria Joel da Costa, de 42 anos, que viu seu marido, José Dutra da Costa, o "Dezinho", ser morto em novembro de 2000, em Rondon do Pará (PA). Hoje presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, a 500 quilômetros de Belém, ela falou no lançamento da campanha que muitas mulheres no estado vivem a mesma situação.

Elenira Bezerra Mendes contou que tinha apenas dois anos quando presenciou o assassinato de seu pai, o ambientalista Chico Mendes, em 1988. Ela destacou as marcas deixadas pela impunidade: "Foi terrível para minha mãe enfrentar sozinha a luta de criar a mim e meu irmão, com apenas um ano na época, e também ter que lutar por justiça". Elenira preside a Fundação Chico Mendes e luta em defesa dos direitos dos seringueiros.

A gaúcha Elizete Hintz, coordenadora da Comissão das Mulheres Trabalhadoras Rurais, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul (Fetag-RS), denunciou a violência sexual sofrida pelas mulheres e a "falta de uma reforma agrária que permita a saida dessas mulheres de baixo das lonas na beira de estradas, onde estão há mais de cinco anos".

A campanha, com o lema Chega de violência, corte este mal pela raiz, foi lançada hoje (7) na 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, denuncia a impunidade em relação à morte de mais de 1,5 mil pessoas em conflitos pela terra nos últimos 20 anos, no Brasil.