Aécio Amado
Enviado especial
Porto Alegre - As 1.800 famílias de trabalhadores sem terra que desde o dia 28 de fevereiro ocupam a fazenda Guerra, uma área de 7 mil hectares em Coqueiro do Sul, na região norte do Rio Grande do Sul, só deixarão o local quando o governo federal definir a situação de 2,5 mil famílias de sem-terra que precisam ser assentadas no estado.
A informação é da porta-voz do grupo que lidera a ocupação, Ana Soares Anauer, que explicou: "Nós estamos aguardando uma reposta do governo para o nosso problema maior, que são essas famílias que há cinco, sete anos estão sob a lona. Para isso seriam necessários neste momento, no mínimo, 30 mil hectares de terra".
A ocupação se estendo por uma área de 12 hectares da fazenda, nas proximidades do município de Carazinho, onde já estão montados mais de 500 barracos de madeira e um galpão utilizado como escola de ensino fundamental para cerca de 400 crianças.
Hoje a área foi visitada por 35 camponeses da Nicarágua, Indonésia, Paraguai, Espanha, Venezuela e Uruguai, que participam da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural. A ida dos camponeneses só foi possível com a autorização concedida pela juíza da 4ª Vara de Carazinho, Ana Paula Caimi. Eles manifestaram solidariedade aos sem-terra e foram recebidos com palavras de ordem em defesa de um modelo de reforma agrária que, segundo os ocupantes, garanta a soberania alimentar dos povos e o desenvolvimento rural dos assentamentos.
O representante da liga de camponeses da Indonésia, Wang Min, disse que em seu país o problema também existe e, depois de convidar os brasileiros para uma visita, afirmou que "terra é vida. Sem terra, vamos morrer, seja no Brasil, seja na Indonésia". Ao final do encontro, contrariando a ordem judicial, os 35 camponeneses estrangeiros entraram na fazenda Guerra para conhecer a estrutura da ocupação. A visita durou cerca de 40 minutos, e, ao final, a organização dos sem-terra brasileiros foi elogiada.
De acordo com a porta-voz, estão todos preocupados com a possibilidade de a Brigada Militar cumprir a decisão judicial de reintegração de posse, marcada para amanhã (8): "Existe uma pressão psicológica muito grande. E provavelmente eles estão mobilizando forças para fazer o despejo. Mas isso não nos assusta, as famílias estão organizadas. E de agora em diante nós estamos sob a responsabilidade do governo federal, do governo estadual e do juiz que deu a reintegração de posse".
Ana Soares Anauer informou que amanhã (8) será realizada uma assembléia para comemorar o Dia Internacional da Mulher. As mulheres que participam da ocupação da fazenda discutirão sua função na luta pela reforma agrária.