Brasília, 29/07/2004 (Agência Brasil - ABr) - O projeto científico que estuda as mudanças climáticas e o uso do solo na Amazônia, LBA, vai continuar apesar de planejado para concluir suas atividades este ano. Depois de seis anos de estudos nas áreas de física do clima, ciclo de nutrientes, emissão de carbono pelas queimadas, efeitos do desmatamento no solo e nos rios, o Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera da Amazônia, ou simplesmente LBA, se tornará uma instituição que trabalha em rede. É o que prevê o coordenador do projeto, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre.
"O LBA começou sem uma intenção concreta de se tornar uma instituição. Mas o fato é que está em discussão, entre os pesquisadores do projeto e até mesmo no governo, sobre qual seria o modelo do LBA como uma instituição. Esse diálogo já se dá aqui mesmo nesta conferência", observou Nobre, ao referir-se à III Conferência Científica do projeto, que terminou hoje (29), em Brasília.
Com a participação de 1.500 pesquisadores estrangeiros e brasileiros, 102 instituições de pesquisa do Brasil, sendo 39 da Amazônia, e 143 instituições científicas européias e americanas, o LBA tem a coordenação executiva centrada no Ministério da Ciência e Tecnologia. Para o pesquisador, é importante que o LBA tenha a coordenação do governo, por ser um projeto estratégico. "As informações geradas podem ajudar na adoção de políticas públicas para a Amazônia e, além disso, é governo quem define as agendas", explicou.
Após três dias de conferência, Nobre fez um balanço positivo do evento e do próprio projeto, e relembrou o início histórico do LBA, quando foi preciso convencer as autoridades sobre sua importância. "Quando apresentamos a proposta de um projeto da magnitude do LBA, com forte participação estrangeira, foi difícil mostrar e provar que não haveria fuga de dados importantes para outros países, porque antes tinha muito disso na cooperação internacional. O pesquisador coletava os dados e ia embora para analisá-los em laboratório no seu país", contou o coordenador e fundador do LBA.
Carlos Nobre listou dois méritos incontestáveis do projeto. Primeiro, foi o treinamento de pessoal. Segundo ele, ao final do LBA, que foi estendido para 2005 (antes que se defina sua continuidade oficialmente), estarão formados mais de 400 mestres e doutores. "A meta, no início, e sonhando alto, era de formar 200. Até nós do projeto nos surpreendemos com esse resultado", revelou o pesquisador. A maioria desses jovens cientistas são da Amazônia, de acordo com Nobre.
Outro mérito foi o fortalecimento das instituições científicas amazônicas. A própria coordenação passou há dois anos, do Inpe, em São José dos Campos (SP) para o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus.
Nobre lembrou que inicialmente houve instituições da Amazônia que não acreditavam no sucesso do LBA e se recusaram a participar do projeto. Hoje, os institutos amazônicos participam maciçamente do LBA e, na última segunda-feira, informou Nobre, pediram a continuidade do projeto em reunião no ministério da Ciência e Tecnologia.
O coordenador lembrou ainda que a tendência do projeto é estar cada vez mais identificado com estas instituições. "Nunca duvidamos que os dados ficariam aqui e temos certeza de que esse sucesso se deve à apropriação do projeto pelos pesquisadores da região amazônica. As três conferências científicas do LBA foram todas no Brasil", disse.
Das 16 reuniões do comitê científico internacional, apenas uma foi realizada no exterior. A próxima, por exemplo, será em Manaus, no mês de novembro. Além disso, mais da metade foi na Amazônia, seja no Pará, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins ou Rondônia", relatou Carlos Nobre.