Oficinas repassam a cultura popular como forma de preservação

25/07/2004 - 16h26

Alessandra Bastos
Repórter da Agência Brasil

Chapada dos Veadeiros (GO) - A vila de São Jorge, na entrada da Chapada dos Veadeiros é chamada pelos habitantes de "rancho zen" porque ali, não se usa celular, maquiagem, tecnologia, não se tem pressa ou estresse. O único cansaço vem de passar um dia inteiro na água das cachoeiras - que se formam, em dezenas, pela região - e de dançar, muito, ao som do forró, maracatu, siriri, e de vários outros gêneros musicais que compõem o diversificado mundo musical brasileiro.

Mundo musical porque não diz respeito apenas ao trabalho, pelo menos é o que afirma Chico Nogueira, um dos vocalista da banda Mambembrincante, de Brasília, que abriu o IV Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, na 6ª feira (23). "É um trabalho de vivência, as letras das canções brasileiras falam do cotidiano das pessoas, da forma como vivem", afirma.

O grupo Mambembrincante toca pela segunda vez no evento. Catira, teteretê, bumba-meu-boi, fandango, folia de reis e demais tradições do teatro popular se juntam ao show, que une a música à encenação com bonecos populares e músicas compostas pela banda inspiradas em canções populares. "São ritmos que o Brasil produz e que estão fora da industrial e da mídia", define Chico.

Para ele, a cultura de um povo é uma decorrência natural do trabalho. "O termo significa cultivar a vida. Assim como a pessoa cultiva o milho, em algum momento ela vai fazer as festas que celebram a fartura que o milho e o trabalho traz. A gente alimenta o espírito cantando e fazendo bonecos", diz.

O Encontro de Culturas não tem apenas música, mas tenta resumir o jeito de São Jorge. Este povo religioso, rezou pelas almas antes de iniciar o festival. Foram as Encomendadeiras de Almas. Vindas de Correntina (BA), fizeram um procissão, que saiu da igreja e foi até o cemitério, onde cantaram e rezaram para velar os espíritos. A tradição é portuguesa e chegou ao Brasil no período de colonização.

A crença é passada de mão para filha e, assim, o grupo vem se mantendo há séculos. Uma dos doze integrantes (o grupo só mantém um homem, que é o líder) é Maria da Glória Barbosa, de 42 anos. Há mais de 15 anos no grupo, ela afirma que as Encomendadeiras de Almas é o único grupo ainda existente em Correntina.

Já Shirlene Araújo, de 26 anos, foi levada ao grupo pela sogra, "para perder o medo de cemitério", conta. A tática deu certo no seu caso, mas uma multidão preferiu aguardar, do lado de fora, o término das orações e o início dos shows a enfrentar o medo.