28/06/2010 - 19h33

Ex-internos do Hospital José Alberto Maia retornam às cidades de origem no interior de Pernambuco

Lisiane Wandscheer
Enviada Especial

 

Recife – Depois de passarem a maior parte da vida internados no Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, no município de Camaragibe (PE), Mário, Valdomiro, Terezinha e José Domingos vivem juntos há um mês em Chã Grande, na Zona da Mata pernambucana. Eles dividem a casa com mais quatro ex-internos da instituição, que deve fechar as portas até o fim deste ano.

Inaugurado em 1965, o Hospital José Alberto Maia internou pessoas com transtorno mental de 80 municípios do estado durante mais de 30 anos. Em 2001, foi impedido de receber novos pacientes. Desde janeiro, o governo estadual coordena um processo de interiorização das residências terapêuticas, para que os ex-internos possam viver em cidades próximas de seus locais de origem.

Valdomiro Luís Dias, 56 anos, adora abrir o portão para receber as visitas. A chave fica pendurada na grade de entrada da casa, junto com o cadeado do portão. Os tempos de isolamento foram deixados no passado. Durante muitos anos, eles não tinham acesso às chaves do quarto onde dormiam no hospital.

Para os moradores da casa, pequenos detalhes do cotidiano ganham um contorno especial. “Aqui posso sentar na rua para fumar meu cigarro. Cuido da casa também e ajudo a juntar o lixo”, conta Dias.

Mário José Pereira é natural de Vitória de Santo Antão, município vizinho de Chã Grande. Ele lembra que trabalhou durante anos como vigia na empresa de um italiano até ser internado pela primeira vez. Não fala muito sobre os tempos vividos no hospital, diz apenas que lá não tinha amigos.

“Vivi 20 anos e quatro meses no Hospital Alberto Maia. Fui com 47 anos para lá e saí com 68 anos. Aqui está melhor do que lá. Lá tinha muita gente desorientada. De vez em quando minha irmã vem me visitar.”

Assim que chegou à casa, José Domingos, 49 anos, teve uma surpresa: alguns vizinhos fizeram uma festa de aniversário para ele, com direito a bolo e refrigerante. “Ganhei um carro de brinquedo e uma bola de futebol”, conta.

Ele guarda o carro em cima do armário, coberto com uma toalha para evitar sujeira. Seu programa predileto é jogar bola na garagem, enfeitada para a Copa do Mundo.

Dona Terezinha Sebastianinha, como gosta de ser chamada, ainda não conhece o bairro, diz que tem medo de sair de casa e ser levada de volta para o hospital.

Para a cidade de Timbaúba, a 80 quilômetros de Recife, na divisa da Zona da Mata com o Agreste, foi outro grupo de ex-internos do Hospital José Alberto Maia. Na hora do jantar, todos dividem as tarefas. Um dos profissionais responsáveis pelo acompanhamento dos moradores, Welson da Silva relata que eles tiveram que reaprender a tomar banho, escovar os dentes e a comer com talher.

“São pessoas que precisam de carinho. A gente mostra como usar o sanitário, escovar os dentes, colocar a mesa. Eles não querem mais ser amarrados e comer comida podre”, afirma o cuidador.

 

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo

 

 

28/06/2010 - 19h32

Mercosul e União Europeia começam negociações para acordo de livre comércio

Luiz Antônio Alves
Correspondente da Agência Brasil na Argentina

Buenos Aires - Negociadores do Mercosul e da União Europeia começam amanhã (29), na capital argentina, a primeira rodada de negociações desde que os dois blocos decidiram retomar as conversas sobre um acordo de livre comércio. O anúncio oficial que resultou no encontro em Buenos Aires foi feito no dia 17 de maio pelo primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, durante a 6ª Cúpula União Europeia, Mercosul e Caribe, realizada em Madri. A Espanha ocupa, atualmente, a presidência rotativa do bloco europeu.

As primeiras conversas sobre um acordo de livre comércio entre o os dois blocos começaram em 2000, foram interrompidas em 2004 e, no ano passado, voltaram à pauta de interesse dos respectivos governos a partir de encontros entre câmaras empresariais sulamericanas e europeias. O anúncio de Zapatero na Cúpula de Madri transformou-se na sinalização política para a elaboração de um acordo de livre comércio entre as partes.

Ao anunciar a retomada das negociações, Zapatero disse que um acordo entre o Mercosul, formado pelo Brasil, Uruguai, Paraguai e pela Argentina, e a União Europeia, que reúne  27 países, incrementaria o comércio entre os dois blocos em 5 bilhões de euros, o equivalente a R$ 11 bilhões. Além disso, o acordo poderá beneficiar cerca de 700 milhões de consumidores.

Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores da Argentina, entre os temas que serão debatidos pelos negociadores das duas partes em Buenos Aires está o nível de abertura comercial relativo aos bens agrícolas e industriais e a definição de regras sanitárias e fitossanitárias necessárias ao intercâmbio entre os blocos. As exportações do Mercosul à União Europeia atingiram, em média, US$ 55 bilhões no período 2006/2008. Os países da chamada zona do euro são os principais investidores diretos na região do Mercosul.
 

 

Edição: Rivadavia Severo

28/06/2010 - 19h16

Cariocas deixam a desconfiança de lado e vibram com a vitória brasileira

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil

Rio de Janeiro - A vitória por 3 a 0 da seleção brasileira sobre o Chile reascendeu a confiança dos cariocas no time. A festa pela vitória se espalhou por vários bairros do Rio, principalmente nas ruas da Tijuca e de Vila Isabel, na zona norte, e na arena da Fifa, na Praia de Copacabana, onde torcedores se concentravam desde o início da manhã para garantir um lugar privilegiado próximo ao telão.

No Centro, o principal ponto de encontro foi novamente a Cinelândia, onde os bares e restaurantes instalaram aparelhos de TV e telões para permitir que os fregueses pudessem acompanhar a partida de qualquer ângulo. Ao final, ao som das já tradicionais vuvuzelas, os torcedores não pouparam elogios ao time, exceto para o jogador Kaká, que chegou a ser vaiado quando foi substituído, já no fim do segundo tempo.

“Adorei o jogo. Desta vez, sim. Confesso que antes estava meio desanimado, não estava muito confiante. Hoje jogou o que tinha de jogar. Só o Kaká está deixando muito a desejar, porque ele é um cara que arma todas as jogadas. Rendeu muito pouco perto do que joga”, analisou o porteiro Manoel Alfredo dos Santos.

O garçom José Pereira de Melo Sobrinho, que assistiu à partida enquanto se esforçava para servir os muitos fregueses que lotaram o restaurante onde trabalha, se mostrou satisfeito. “Houve evolução, perto do que eles jogaram na última partida. Agora dá para chegar na final, mas a Holanda vai ser mais difícil que o Chile. O Brasil tem que jogar mais”, avaliou o garçom, já pensando no adversário das quartas-de-final.

Do lado de fora dos restaurantes, um grupo de moradores de rua discutia entusiasmado os principais lances. “Eu gostei do jogo, mas o Robinho e o Kaká estão meio apagados, estão devendo. Contra a Holanda, eu espero que o Brasil jogue com consciência. Que mostre o futebol que o Brasil tem”, disse Márcio Rodrigues, que trabalha na coleta de lixo reciclável.

“Eu gostei, porque nós estamos jogando sem brincadeira. Então, temos que jogar sério, para termos um resultado sério. Senão, os outros é que vão brincar com a gente. Agora eu estou mais confiante no Dunga, porque ele não está nos decepcionando”, comemorou Marcelo Rodrigues de Freire, que trabalha como artesão nas ruas do Centro.

 

Edição: Vinicius Doria

28/06/2010 - 19h12

Retratos da Loucura

 

28/06/2010 - 19h09

Residência terapêutica deve ser espaço de transição, defende pesquisadora

Lisiane Wandscheer
Enviada Especial

Porto Alegre – Consideradas fundamentais para a implantação da reforma psiquiátrica, as residências terapêuticas devem ser um espaço de transição e não uma moradia permanente para a maior parte dos ex-internos, defende a psicóloga Simone Frichembruder. Em 2009, a professora da Faculdade da Serra Gaúcha analisou essas unidades nas cinco regiões do país. As conclusões resultaram na tese de doutorado Os (Des)Encontros da Loucura com as Cidades.
“Há pessoas que ficaram tanto tempo dentro de uma instituição que hoje apresentam problemas crônicos, têm dificuldades físicas e precisam de uma residência. Há outras que foram para a instituição por uma questão social e não por um transtorno mental e, para elas, as residências poderiam ser um espaço de passagem”, destaca.

Simone reforça que, para garantir a reinserção social das pessoas originárias de hospitais psiquiátricos, as residências devem se desvincular da rotina manicomial – de monitoramento constante do comportamento – e avançar em busca da autonomia dos moradores.

Uma das conclusões da pesquisa é o excessivo controle dos profissionais que atuam como cuidadores e auxiliam no orçamento doméstico, no acompanhamento do uso de medicamentos e, em alguns casos, na cozinha e na limpeza da casa.

“Alguns profissionais que ficam nas moradias acabam reproduzindo os mecanismos de controle utilizados nos hospitais psiquiátricos. 'Essa casa não é a minha casa. Antes quem gerenciava minha vida era o hospital, agora é a Secretaria da Saúde', me disse um morador de uma residência”, relata.

Simone conta que durante a visita a uma residência presenciou uma cuidadora intimidando a moradora por derramar bebida no chão. “Ela colocou um bonequinho na frente da moradora e disse que ele iria observá-la para que ela não fizesse aquilo novamente. Esse controle integral da vida das pessoas para que ela esteja sempre organizada é transformado em sinônimo de reabilitação social”, critica.

A vida fora da instituição hospitalar também traz mudanças físicas às pessoas com transtornos mentais. Para a especialista, quanto mais tempo as pessoas ficam distantes do espaço manicomial, maior é a mudança.

“É inegável a mudança no aspecto da pessoa, a postura do corpo, a voz. Há casos de pessoas que pensávamos que nunca iriam falar e que de repente falam”, explica.

Para a pesquisadora, a reforma psiquiátrica ainda não se consolidou. “Mesmo com o fim dos hospitais, o modelo asilar acaba se reproduzindo nas residências e nos locais de assistência à saúde com o uso de medicamentos, que está arraigado na sociedade”, afirma.


Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo

 

28/06/2010 - 18h55

MEC estima matricular 2,2 milhões de adultos em classes de alfabetização neste ano

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

Brasília – A uma semana do final do prazo para adesão de estados e municípios ao Programa Brasil Alfabetizado, do governo federal, o Ministério da Educação faz a previsão de matricular, neste ano, 2,2 milhões de jovens e adultos em classes de alfabetização. O prazo para adesão de estados e municípios termina no próximo domingo (4) e a meta do ministério é fechar parceria com 1.450 secretarias de Educação.

Até agora, foram registradas 1.392 adesões – 23 estados, o Distrito Federal e 1.368 municípios. Ainda não aderiram ao programa os estados de São Paulo, do Espírito Santo e Rio Grande do Sul. O ministério repassa recursos aos estados e municípios participantes para capacitações de professores, compra de material pedagógico, além de ser responsável pelo pagamento da bolsa dos alfabetizadores.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem 14 milhões de analfabetos entre a população com 15 anos de idade ou mais, o que representa 10% dos brasileiros nessa faixa etária. Mais informações sobre a adesão ao Brasil Alfabetizado no site do ministério.
 

Edição: Lana Cristina

28/06/2010 - 18h49

Gilberto Carvalho ganha bolão do jogo do Brasil contra o Chile

 

Carolina Pimentel

Repórter da Agência Brasil

 

 

Brasília - O ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padida, chegou há pouco ao Palácio da Alvorada para uma reunião com o presidente Lula. Ele confirmou que o vencedor do bolão organizado pelo pelo presidente Lula foi o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, que acertou o placar de 3 a 0 do Brasil sobre o Chile.

 

Otimista, Lula apostou num resultado de 4 a 1 para o Brasil. O vice-presidente, José Alencar, foi mais longe: 5 a 0. O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, fizeram a mesma aposta: 3 a 1 para o Brasil. O ministro da Defesa, Nelson Jobim, também acreditou na vitória do Brasil, mas com placar um pouco mais apertado: 2 a 0.

Como vencedor do bolão, Gilberto Carvalho ganhou como prêmio uma garrafa de cachaça Maria da Cruz, produzida na fazenda do vice-presidente José Alencar.

 

Edição: Aécio Amado

 

28/06/2010 - 18h46

Torcedores no Vale do Anhangabaú dizem que futebol da seleção melhorou

Daniel Mello

Repórter da Agência Brasil
 

 

São Paulo – Os torcedores que lotaram o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, onde foram instalados telões que mostraram a vitória do Brasil sobre o Chile por 3 a 0, disseram que a seleção apresentou um padrão de jogo que melhora a cada partida.
 

“Melhorou bastante, eles estavam guardando para jogar agora”, afirmou o técnico em edificações, Wesley Natan, que optou por assistir ao jogo no Anhangabaú porque não conseguiria sair do trabalho e chegar em casa a tempo.
 

Quem também decidiu pelo Vale do Anhangabaú foi a vendedora Luciana Santos. Na opinião dela, o Brasil apresentou um futebol mais eficiente no jogo de hoje. “Desenrolou, agora vai”, disse.
 

A gestora em finanças Daniela de Paula não tinha uma opinião definitiva sobre o desempenho da seleção, porque quase não conseguiu ver a partida . Segundo ela, com “todo mundo pulando” fica difícil visualizar os telões. Mas, apesar do desconforto, ela disse que prefere o Vale do Anhangabaú do que ir para casa. “Aqui tem muita gente, é diferente do que ficar em casa sozinha”.
 

Com a vitória sobre o Chile, a seleção brasileira passou para a fase de quartas de final e vai enfrentar a Holanda na sexta-feira (2), às 11h.

 

 

Edição: Aécio Amado

28/06/2010 - 18h43

Vitória do Brasil restitui confiança do torcedor no hexacampeonato

Vinicius Konchinski
Enviado especial

Joanesburgo – A vitória da seleção brasileira sobre o Chile, além de classificar o Brasil para as quartas de final da Copa do Mundo, encheu o torcedor de confiança no hexacampeonato mundial. Os convincentes 3 a 0 de hoje (28) fizeram com que os brasileiros que vieram ao Mundial mais do que nunca acreditassem no triunfo da equipe brasileira na África do Sul.

Antes mesmo do apito final da partida desta segunda-feira, torcedores que foram ao Ellis Park, em Joanesburgo, já anunciavam sua crença no sexto título do Brasil em Copas. “Oh, o campeão voltou”, gritavam os brasileiros ao som dos batuques em ritmo de samba.

Bastou o encerramento do jogo para as declarações de confiança surgirem das bocas dos torcedores que se encontravam nos portões do estádio. “É hexa”, disse o soteropolitano Eduardo Azi. “A Espanha, que é favorita, sofreu para ganhar do Chile. Nós passamos fácil. Vamos levar a taça”.

Azi está em sua primeira Copa. Disse que os primeiros jogos da seleção no Mundial não inspiraram a sua confiança. O jogo de hoje, porém, fez ele ter certeza da vitória no Mundial. “Vamos ganhar da Argentina na final”.

Manoel Antonio, que veio de Estreito (MA), também acredita que a final da Copa será entre o Brasil e a Argentina. Depois do jogo com o Chile, ele não tem mais dúvidas quanto ao campeão. “Pode botar fé. O Brasil é campeão”, afirmou, enquanto ainda comemorava a vitória.

Edson Júnior também está confiante. Brasileiro residente em Moçambique, ele só pede um pouco de cautela para os jogadores. “Copa do Mundo é assim. Cada jogo é um jogo”, disse. “Temos que jogar desta mesma forma contra a Holanda e todos os outros times até a final”.                 

A Holanda é o próximo adversário do Brasil na Copa. Os holandeses ganharam de 2 a 1 da Eslováquia e, agora, jogam com a seleção brasileira na sexta-feira, no Estádio Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth, as 11h (horário de Brasília).
 

 

Edição: Rivadavia Severo

28/06/2010 - 18h24

Residências terapêuticas valorizam autonomia de ex-internos de hospitais psiquiátricos

Luana Lourenço e Lisiane Wandscheer
Enviadas Especiais

Goiânia e Porto Alegre - Em uma rua simples da periferia de Goiânia, uma casa só chama a atenção pela imensa árvore na entrada, que faz sombra até para a vizinhança. Nela moram sete ex-internas de hospitais e clínicas psiquiátricas.

A residência Beija-Flor é uma das 564 unidades dos serviços residenciais terapêuticos, criados a partir de 2001, com a sanção da Lei nº 10.216, que instituiu a reforma psiquiátrica no Brasil.

As casas, que abrigam até oito pessoas, recebem pacientes que viveram muitos anos internados em instituições psiquiátricas e que, com o fechamento dos leitos, ficaram sem ter para onde ir ou a quem recorrer, sem vínculos familiares ou territoriais.

Para Maria de Deus Matos, a Beija-Flor é a primeira casa de seus 54 anos de vida. Na memória, as lembranças ainda são amargas, dos anos vividos em manicômios e clínicas particulares. Quando fala sobre as diferenças entre os hospitais e a vida na casa, Maria lembra um hábito aparentemente simples, um banho de chuveiro.

“Lá era diferente, amarravam a gente, batiam na gente, a gente tomava banho com aquele cano de chuveiro. Com água fria, gelada mesmo, iam dando tapa, amarrando a boca da gente. Agora é com xampu, tem creme, cortam o cabelo se a gente quiser, pintam o cabelo”, compara.

A terapeuta ocupacional e supervisora técnica da residência, Carlene Soares, conta que a mudança de ambiente estimula a reconstrução da convivência, a busca da autonomia e a volta de valores perdidos no anonimato dos hospitais psiquiátricos.

“As pessoas chegam aqui e precisam reconstruir seus laços, não só os afetivos, mas os familiares, os sociais. E também reaprendem a interagir com o ambiente. Muitas pessoas aqui passaram anos sem ver um sabonete. Você entrega um frasco de xampu e ela joga inteira na cabeça”, explica.

Apesar das experiências positivas, os serviços residenciais ainda não têm alcance nacional. Não há uma residência terapêutica em toda a Região Norte, por exemplo. O Ministério da Saúde transfere a responsabilidade para os gestores municipais. “A velocidade do processo de implementação de serviços de base territorial depende muito do comprometimento dos gestores locais”, disse, em entrevista por e-mail, o coordenador de Saúde Mental do ministério, Pedro Gabriel Delgado.

Na lista de dificuldades do serviço residencial terapêutico também estão a falta de capacitação para os cuidadores, que se revezam para acompanhar os pacientes durante 24 horas, e problemas com a locação dos imóveis, responsabilidade das prefeituras.

Em Porto Alegre, 27 casas amarelas formam o residencial terapêutico Morada São Pedro, onde vivem 49 pessoas. Antes, elas moravam no hospital psiquiátrico que ficava no terreno ao lado. As residências ficam perto da Vila do Cachorro Sentado, local marcado pela violência e pelo tráfico.

Segundo a fisioterapeuta Estela Maris, que trabalha há sete anos no residencial terapêutico Morada São Pedro, a convivência dos moradores com as pessoas da vila gerou preconceito dos dois lados. “Lá se encontraram dois polos de exclusão: o do pobre e o do louco”, afirma.

De acordo com Estela, a convivência se tornou mais integrada aos poucos. “Hoje há uma relação de cuidado e cumplicidade entre alguns moradores das casas e da vila.”

Para o casal de moradores João Airton Spíndola e Andréa Beatriz da Silva, ex-pacientes do Hospital São Pedro, entretanto, a vida no local é difícil. “Ninguém nos respeita, as pessoas ficam fumando, bebendo e fazendo bagunça na rua. Nós queríamos conseguir uma casinha para morar sozinhos”, diz Spíndola.

A Morada São Pedro é vinculada diretamente ao hospital. Atualmente, é mantida com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS) destinados ao estado. Profissionais de saúde que trabalham no local defendem que o repasse seja feito diretamente ao município para que haja autonomia orçamentária.

 

Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo

 

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