Lisiane Wandscheer
Enviada Especial
Recife – Depois de passarem a maior parte da vida internados no Hospital Psiquiátrico José Alberto Maia, no município de Camaragibe (PE), Mário, Valdomiro, Terezinha e José Domingos vivem juntos há um mês em Chã Grande, na Zona da Mata pernambucana. Eles dividem a casa com mais quatro ex-internos da instituição, que deve fechar as portas até o fim deste ano.
Inaugurado em 1965, o Hospital José Alberto Maia internou pessoas com transtorno mental de 80 municípios do estado durante mais de 30 anos. Em 2001, foi impedido de receber novos pacientes. Desde janeiro, o governo estadual coordena um processo de interiorização das residências terapêuticas, para que os ex-internos possam viver em cidades próximas de seus locais de origem.
Valdomiro Luís Dias, 56 anos, adora abrir o portão para receber as visitas. A chave fica pendurada na grade de entrada da casa, junto com o cadeado do portão. Os tempos de isolamento foram deixados no passado. Durante muitos anos, eles não tinham acesso às chaves do quarto onde dormiam no hospital.
Para os moradores da casa, pequenos detalhes do cotidiano ganham um contorno especial. “Aqui posso sentar na rua para fumar meu cigarro. Cuido da casa também e ajudo a juntar o lixo”, conta Dias.
Mário José Pereira é natural de Vitória de Santo Antão, município vizinho de Chã Grande. Ele lembra que trabalhou durante anos como vigia na empresa de um italiano até ser internado pela primeira vez. Não fala muito sobre os tempos vividos no hospital, diz apenas que lá não tinha amigos.
“Vivi 20 anos e quatro meses no Hospital Alberto Maia. Fui com 47 anos para lá e saí com 68 anos. Aqui está melhor do que lá. Lá tinha muita gente desorientada. De vez em quando minha irmã vem me visitar.”
Assim que chegou à casa, José Domingos, 49 anos, teve uma surpresa: alguns vizinhos fizeram uma festa de aniversário para ele, com direito a bolo e refrigerante. “Ganhei um carro de brinquedo e uma bola de futebol”, conta.
Ele guarda o carro em cima do armário, coberto com uma toalha para evitar sujeira. Seu programa predileto é jogar bola na garagem, enfeitada para a Copa do Mundo.
Dona Terezinha Sebastianinha, como gosta de ser chamada, ainda não conhece o bairro, diz que tem medo de sair de casa e ser levada de volta para o hospital.
Para a cidade de Timbaúba, a 80 quilômetros de Recife, na divisa da Zona da Mata com o Agreste, foi outro grupo de ex-internos do Hospital José Alberto Maia. Na hora do jantar, todos dividem as tarefas. Um dos profissionais responsáveis pelo acompanhamento dos moradores, Welson da Silva relata que eles tiveram que reaprender a tomar banho, escovar os dentes e a comer com talher.
“São pessoas que precisam de carinho. A gente mostra como usar o sanitário, escovar os dentes, colocar a mesa. Eles não querem mais ser amarrados e comer comida podre”, afirma o cuidador.
Edição: Juliana Andrade e Lílian Beraldo