País pode conciliar produção de alimentos e de biocombustíveis, diz reitor da Unicamp

17/07/2008 - 14h52

Luana Lourenço
Enviada especial
Campinas (SP) - Apesar de ser “o único país que pode conciliar produção de alimentos com fabricação de biocombustíveis”, o Brasil precisa de uma política agrícola consistente para evitar que o aumento da demanda por cana-de-açúcar para etanol pressione a redução do cultivo de alimentos. A avaliação foi feita hoje (17) pelo engenheiro agrônomo e reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), José Tadeu Jorge, anfitrião da 60° Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). “Temos potencial para atender as duas demandas mundiais: de alimentos e de biocombustíveis. Na minha avaliação, as oportunidades para alimentos são melhores que as do etanol, mas nem precisamos fazer essa escolha. Podemos atender as duas demandas, desde que haja planejamento”, argumentou.  Tadeu criticou a “inexistência histórica” e atual de uma política agrícola que leve em conta os fundamentos da agricultura, e não apenas garanta recursos para os produtores. “O que o Brasil sempre teve foram planos econômicos para o setor. Isso não é política agrícola. Não é que não seja importante, mas precisamos de mais que isso para dar conta dessa questão de uma possível competição entre etanol e alimentos”, apontou. Uma política agrícola consistente, segundo Tadeu, deve ser baseada nos fundamentos da agricultura e fornecer estratégias de colheita, secagem e resfriagem, beneficiamento da produção, embalagem, armazenagem, entre outros. “Falam em zoneamento, que trata muito das questões de solo e clima, mas não contempla todos os fundamentos, deixa de lado necessidades como mecanização e transportes, por exemplo”, ponderou. O reitor da Unicamp frisou que, sem planejamento, o Brasil corre riscos de ter as lavouras de alimentos substituídas por cultivo de cana-de-açúcar. Tadeu justificou a preocupação com dados do estado de São Paulo, responsável por 60% da produção de cana-de-açúcar no Brasil. Segundo ele, estudos revelam que, entre 2001 e 2006, o cultivo da cana ganhou mais de 1 milhão de hectares de área no estado, enquanto houve perda de espaço de pastagens e culturas como feijão, café, arroz, laranja e banana. Tadeu afirmou que a idéia, adotada e divulgada pelo governo, de que é possível avançar o cultivo de cana em áreas liberadas de pastagens, a partir da redução do número de bois por hectare, é “um sofisma, um argumento equivocado” se não houver planejamento. “Isso não vai acontecer naturalmente. A agricultura é um negócio econômico, precisa de planejamento e política consistente para aproveitar as oportunidades.” Na última terça-feira (15), também durante a SBPC, o climatologista do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Carlos Nobre, criticou a inexistência de uma política agropecuária no país que limite a expansão da produção sobre a Amazônia.