Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com cerca de 315 milbrasileiros, o Japão tem a terceira maior comunidadebrasileira no exterior, atrás dos Estados Unidos e doParaguai. No entanto, ao contrário do que se vê na maiorparte dos principais destinos, duas características chamam aatenção nesse grupo de migrantes brasileiros. A primeira é ofato de que quase 100% dos deles estãoregularizados no Japão. Isso acaba levando à segunda grandecaracterística: a maioria ou é descendente oucônjuge de japonese. “Noinício do século 20 os japoneses vieram para o Brasil edepois de quase um século, na verdade a partir de meados dadécada de 1980, seus descendentes, filhos e netos, começama ir para o Japão novamente”, diz a professora Elisa MassaeSasaki, da Universidade de Campinas (Unicamp).De acordo com ela, essarelativa homogeneidade entre os migrantes ocorre, em parte, pelofato de ser necessário comprovar a ascendência ou ocasamento com um descendente de japonês para se ter o vistopermanente. “OJapão se considera uma sociedade homogênea etnicamente,uma língua, uma nação, mas esse discurso édesafiado pela entrada de novos e cada vez mais variadosestrangeiros”, afirma Sasaki.Desde o início dessa migração, os chamados dekasseguis (em japonês “trabalhar fora de casa”) têmocupado postos de trabalho na indústria manufatureira. “Osjaponeses se recusam a trabalhar nesse setor, considerado atividade de baixa qualificação e de poucapossibilidade de ascensão profissional”, explica.Atualmente,eles se concentram na Ilha Principal,Honshū, particularmente nas províncias de Aichi e Shizuoka,onde se concentram manufaturas especialmente do setorautomobilístico, e Nagano, onde há indústrias decomponentes eletrônicos.Se no início osdekasseguis tinham aexpectativa de ficar no país temporariamente, hoje a presençase tornou mais permanente. Elisa Sasaki destaca que cerca de 25% dacomunidade, ou em torno de 78 mil imigrantes brasileiros, têmvisto de permanência. Isso gera uma das principais demandas:educação para os filhos.“Hojea gente já encontra uma presença cada vez maior dejovens brasileiros, ou que foram pequenos ou que já nasceramlá”, diz. E complementa: “das grandes questões naárea da educação, uma é se você vaiensinar à la brasileira ou à la japonesa, qual osistema educacional que você vai escolher”, o que depende,segundo ela, do projeto de vida de cada família que estálá.Apesar de no Japãopraticamente não haver políticas, especialmente emnível nacional, para a integração dosimigrantes, a comunidade desenvolveu formas de adaptaçãoe integração. Uma é a imprensa étnica. Aprofessora Sasaki informa que existem cerca de 50publicações, com quatro jornais bem sucedidos:International Press, Jornal Tudo Bem, Nova Visão e FolhaMundial. Isso além de empresas importadoras de produtosbrasileiros, bares, restaurantes, TV e mesmo escolas brasileiras.Para conhecer um pouco mais quem são os brasileirosquevivem em outros países e as necessidades dessas pessoas, o Ministériodas Relações Exteriores organizou a 1ª Conferência sobre as ComunidadesBrasileiras no Exterior. Com o slogan “Brasileiros no Mundo”, oencontro ocorre hoje (17), no Rio de Janeiro, e tem o apoio da FundaçãoAlexandre de Gusmão (Funag).