Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A senadora Kátia Abreu (DEM-TO) decidiu entrar naJustiça contra Arthur Joaquim de Carvalho, cunhado do empresário DanielDantas, e Guilherme Henrique Sodré Martins, também ligado aoempresário. Numa das gravações telefônicas feitas pela Polícia Federal,durante as investigações da operação Satiagraha, eles envolvem KátiaAbreu numa suposta briga empresarial entre Daniel Dantas e o empresárioEike Baptista pelo controle do setor portuário. Na conversa, Arthur Carvalho teria dito a GuilhermeMartins que recebeu “a informação de que ela [supostamente a senadora] estava recebendo R$ 2milhões da OAS [empreiteira baiana]” para favorecer Eike Baptista nessabriga empresarial. Agora, Kátia Abreu vai interpelar judicialmente osdois, para que apresentem provas de que tenha recebido propina e se areferência na gravação a “ela” diz respeito realmente a sua pessoa.Na Justiça Federal, a senadora já preparou uma açãocontra a União de indenização por danos morais. O argumento é que “oMinistério da Justiça, sob o qual a Polícia Federal está subordinada,não cuidou com os meios necessários, de documento sigiloso sob suaguarda e responsabilidade".Kátia Abreu foi relatora da medida provisória 412,aprovada em 28 de maio pelo Senado, que flexibilizava o limite de cargaspara os terminais privados. Ou seja, o movimento de cargas nos portospassaria a ser feito independente do percentual de cargas públicas eprivadas. Hoje, existe uma resolução da Agência Nacional de TransportesAquaviários (Antaq) estabelecendo que os portos privados devem tercargas próprias em volume suficiente que justifiquem sua implantação.Em entrevista coletiva, Kátia Abreu disse que,durante o período em que relatou a matéria recebeu uma série deempresários contrários e favoráveis à flexibilização portuária. Negouque, de ambas as partes, tenha recebido qualquer proposta queenvolvesse dinheiro. Além da OAS, a senadora disse ter tratado doassunto com o próprio Eike Batista, dono da empresa LLX, ligada aosetor naval. O encontro ocorreu, segundo ela, no Rio de Janeiro.Das conversas participaram, ainda, representantes deempresas como Bunge e Cargill, entre outras, todas favoráveis àflexibilização do movimento de conteineres nos portos brasileiros. Osempresários teriam colocado para ela que estariam prontos para investirUS$ 10,8 bilhões em portos privativos mistos, “valor bem superior aoque está previsto para o setor portuário no Programa de Aceleração doCrescimento (PAC)”.Na conversa com Eike Batista, a senadora disse que oempresário perguntou-lhe como poderia ajudá-la a aprovar a emenda. Emresposta, Kátia Abreu solicitou um bom parecer jurídico para embasar aproposta. A parlamentar disse que o empresário lhe colocou à disposiçãoo trabalho da empresa LogiServ Consultoria Logística Ltda.Ela afirmou que foi procurada, também, pelopresidente da Santos Brasil, Wady Jasmim, e Richard Klien, um dossócios do complexo portuário, um dos maiores que atua no Porto deSantos (SP). Segundo Kátia Abreu, em 2007, foram movimentados no portosantista cerca de 1,7 milhão de conteineres, o que representa mais de40% da carga naval brasileira. O Banco Opportunity, de Daniel Dantas, é ocontrolador da Santos Brasil. Kátia Abreu relatou aos jornalistas que os doisempresários tentaram lhe convencer de que o controle portuário deveriacontinuar nas mãos do setor público, sob o argumento que este é omodelo adotado em praticamente todo o mundo. “Ninguém me deu nada,nenhum argumento, para que eu pudesse assumir a luta deles”, disse ela.