Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Após negar que o faria, a PolíciaFederal divulgou trechos editados do áudio de uma reuniãoocorrida em São Paulo na última segunda-feira, entredelegados e diretores, com o intuito de comprovar que o delegadoProtógenes Queiroz deixou por vontade própria o comandodo inquérito da Operação Satiagraha.A gravaçãoreproduz um diálogo entre Protógenes e o diretor deCombate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho. Odelegado reconhece ter criado um problema e manifesta interesse emcolaborar na continuidade das investigações, mas dizexpressamente não querer mais presidir o inquérito.Protógenes:(...) “Eu criei um problema para os meus colegas delegados, umgrande problema, e para você também. Então minhaproposta é essa, permanecer minha vinculação aoseu gabinete, à sua disposição até ofinal do trabalho, para não ficar aquela pecha de que Brasíliavem fazer operação nos estados e deixa no meio docaminho. As minhas nunca ficaram e a exemplo dessa, não vaificar, mas com um diferencial: eu não vou ficar presidindo,não pretendo presidir nenhuma investigação, masficar coletando dados, analisando...”.Em resposta a Queiroz,antes que ele concluísse o raciocínio, Tronconcondiciona a permanência do delegado à conclusãodo inquérito antes que ele iniciasse a parte presencial de umcurso de formação, com início previsto para apróxima segunda-feira em Brasília. O curso foi oargumento usado pela PF para justificar o afastamento do delegado.Troncon: “Seeventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquéritoque você instalou, se você conseguir concluir antes doperíodo de você ir para a academia, sem nenhum problema.Agora, se não conseguir dentro da melhor técnica, eisso requerer maior tempo e maior análise, aí a gentepassa para um dos colegas”.Em outro trecho dareunião, Protógenes agradece o apoio recebido dos seussuperiores e faz uma autocrítica em que admite falhas nacondução da Operação Satiagraha,especialmente em relação à presença deuma emissora de TV no momento em que se efetuavam prisões.Protógenes: “Nãopreciso nem falar com relação ao doutor Troncon, que éum chefe ímpar, que me deu toda essa... Eu devo praticamente100% da execução dessa operação a doishomens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente eu destacoo doutor Troncon. Em seguida, o doutor Leandro [Daiello,superintendente da Polícia Federal em São Paulo] e emterceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia esqueceraqui o dr. Luiz Fernando Côrrea [diretor-geral da PF], a quemprezo e tenho um carinho muito grande. Então ele era sabedordessa operação e correu tudo bem. Aqui hoje éuma avaliação de erros para nos corrigirmos e nospoliciarmos. Então houve a presença da imprensa aqui emSão Paulo? Houve. Quem falhou? O Queiroz [delegado se refere aele mesmo] falhou, porque o Troncon me depositou [confiança] eeu firmei compromisso com ele, mas falhou o meu controle”.Ouça aqui:
A OperaçãoSatiagraha, que combate crimes financeiros, resultou na prisãode figuras de expressão como o banqueiro Daniel Dantas, oinvestidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo CelsoPitta, que foram expostas publicamente algemadas.A saída do delegado foi anunciada anteonteme gerou polêmica. O presidente Luiz Inácio Lula da Silvaafirmouque ele deveria ter ficado, o ministro Tarso Genro disseque o fato não atrapalharia as investigações e oSindicato dos Delegados PF pediuexplicações.Lula se reuniu na manhã de hoje com Tarso eo diretor-geral interino da Polícia Federal, Romero Menezes,para discutir a Operação Satiagraha. A assessoria daPolícia Federal e do Palácio do Planalto negaram que opresidente tenha solicitado a Menezes que divulgasse a gravação.