Daniel Dantas tem depoimento marcado para amanhã na Polícia Federal em São Paulo

17/07/2008 - 19h54

Elaine Patricia Cruz
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - O dono do BancoOpportunity, Daniel Dantas, tem depoimento marcado para amanhã(18) na Superintendência da Polícia Federal em SãoPaulo, informou o seu advogado, Nélio Machado. Esse seráo segundo interrogatório ao qual o banqueiro compareceránesta semana na PF na capital paulista - o primeiro foi ontem (16),quando ele se negou a responder às perguntas do delegadoProtógenes Queiroz, coordenador da OperaçãoSatiagraha. Dantas é acusado pela PF de corrupção,lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasãode divisas e sonegação fiscal.Além dodepoimento de amanhã na PF, Dantas também já temagendado um interrogatório na Justiça Federal em SãoPaulo. No dia 7 de agosto próximo, o banqueiro seráouvido pelo juiz Fausto Martin De Sanctis, da 6ª Vara CriminalFederal de SP, que acompanha a operação. O magistradoaceitou a denúncia apresentada pelo Ministério PúblicoFederal contra o banqueiro, o professor universitário HugoChicaroni e o ex-presidente da Brasil Telecom Humberto Braz. Chicaroni e Braz sãoos únicos dois acusados pela PF na OperaçãoSatisgraha que ainda continuam presos. O professor universitárioestá na carceragem da Polícia Federal em SãoPaulo, e o ex-presidente da Brasil Telecom encontra-se recolhido napenitenciária de Tremembé. O juiz De Sanctis tambémvai ouvidos: Chicaroni será interrogado no dia 5 de agosto, eBraz, no dia 7. Segundo o juiz, os trêsteriam oferecido vantagens indevidas de “pagamento de altas somasem espécie” ao delegado federal Victor Hugo RodriguesFerreira, integrante da equipe da Operação Satiagraha.Num encontro num restaurante da capital paulista, Chicaroni teriaoferecido inicialmente R$ 50 mil ao delegado para obter informaçõessobre um investigação da PF envolvendo Dantas.Após receber aconfirmação de que a operação existia,Chicaroni disse ao delegado que Braz estaria autorizado por Dantas alhe oferecer-lhe até US$ 1 milhão para retirar o nomedo banqueiro, de sua irmã, Verônica Dantas, e de seufilho das investigações.Em um dos diálogostranscritos durante a investigação, Dantas conversa comBraz e pede para que ele mantenha contato com o delegado Protógenespara tentar suborná-lo.Humberto: Alô...oi...Dantas: Oi...não... o Chico acabou de me ligar que ele esteve com a Aline eela disse pra ele uma coisa um pouquinho diferente do que disse pravocê, acho até que disse pra vc certo... Mas nãomencionou esse assunto de que houve aquela discussão...Humberto: Tá...Dantas: Meio quecolocou que o objetivo continua sendo o original... e quem táresponsável é esse Protógenes mesmo...Humberto: Sei.Eu acho também, é o que eu acho também... eu nãotenho... aliás eu não tenho dúvida nenhuma atéporque afinal ele teria...Dantas: Ele nãotinha dito que tinha recebido de Otávio uma orientaçãoem direção oposta?Humberto: Não,ele não recebeu... ele tem...Dantas: Elenão... ele soube que foi recebido...Humberto: Soubee eu não tenho dúvida nenhuma que recebeu, pelosdetalhes que ele deu...Dantas: Tábom...Humberto:Nenhuma, nenhuma...Dantas: Agora jáque identificou quem é...Humberto: Agoraele tem... o problema é que ele em um contato ali que ele querproteger até o fim da vida, viu? Então ele... ele nãovai nem confirmar isso aí não...Dantas:Confirmar para você?Humberto: Não...prá mim tudo bem... prá mim tudo bem, eu tôdizendo ele...Dantas: Não...eu sei, mas minha pergunta é: se dá... se a gente jásabe quem é, o endereço... se não podia entrarem contato...Humberto: Mas oproblema é que já entrou e ele disse que não,né? Então...Dantas: Nãoentrou diretamente com... nãoHumberto:Entrou, entrou, entrou... não, tudo bem, através depessoas, mas se entrar diretamente, também vai dizer quenão... mas nós estamos bolando um caminho aqui... umcaminho jurídico aí... é... bem desenhado...Em sua decisão,o juiz afirma que as investigações conduzidas pelaPolícia Federal revelaram indícios suficientes deautoria e materialidade do crime, incluindo a confissão dadapor Chicaroni em seu depoimento à Polícia Federal nasemana passada, quando ele confirmou ter procurado o delegado VictorHugo Ferreira para questioná-lo “sobre a possibilidade deque fossem passadas informações ao grupo Opportunitysobre a investigação envolvendo o mesmo grupo”.Chicaroni tambémconfirmou ter entregue ao delegado a quantia de R$ 50 mil, “atítulo de primeiro encontro” e também pela promessade obter mais informações sobre o caso.Durante o depoimento,Chicaroni confirmou ao delegado Protógenes Queiroz que ele eBraz marcaram um encontro num restaurante de São Paulo eofereceram a Victor Hugo a quantia de US$ 1 milhão e que teriaentregue ao delegado R$ 80 mil desse total. O restante, cerca de R$865 mil, foi levado à sua casa por pessoas ligadas ao banco edeveria depois ser entregue ao delegado.“Quem coordenou aentrega dos valores foi uma pessoa de nome Humberto [Braz],executivo do banco Opportunity”, disse Chicaroni, em depoimento.Quando a operação foi deflagrada, no dia 8 de julho,essa quantia em dinheiro foi apreendida pelos policiais federais nacasa do professor universitário.Outro indícioque levou o juiz a acreditar em crime foi uma busca feita na casa deDantas, que levou a Polícia Federal a apreender um documentochamado “Contribuições ao Clube”, onde se encontramescritas expressões como “contribuição paraque um dos companheiros não fosse indiciado criminalmente”,acompanhado de um valor – ainda não se sabe em que moeda –de 1,5 milhão. Em outra folha manuscrita, com timbre do hotelThe Waldorf Asturia, lê-se “usar o assunto da políciapara produzir notícia e influenciar na justiça”.