Atraso na votação da MP da dívida rural ameaça meta para próxima safra, alerta CNA

17/07/2008 - 18h17

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O atraso na votação da medida provisória (MP) da renegociação de dívidas dos produtores rurais ameaça a meta de produção de 150 milhões de toneladas estabelecida pelo governo para a safra 2008–2009. O alerta foi feito hoje (17) pelo superintendente-técnico da Confederação da Agricultura e da Pecuária do Brasil (CNA), Ricardo Cotta.“A meta [de 150 milhões de toneladas] é viável de uma safra para outra, mas a lentidão na votação da MP prejudica todo o processo”, disse Cotta. Segundo ele, o governo deveria, além de renegociar a dívida rural, investir na redução do custo de produção, com a diminuição de alíquotas de importação de insumos e o estabelecimento de regras claras para o setor privado investir em infra-estrutura.Editada no final de maio após dez meses de negociação, a MP prevê ajuda de R$ 75 bilhões para os agropecuaristas brasileiros. Isso equivale a 85,7% do total do saldo devedor do setor, atualmente estimado em R$ 87,5 bilhões. Até agora, os deputados, que entrarão em recesso parlamentar amanhã (18), não votaram o texto.Segundo Cotta, o auxílio de R$ 75 bilhões não representa o valor ideal reivindicado pelos produtores. Ele, no entanto, acredita que o principal problema foi a demora na edição da MP, que não deu tempo aos agricultores e pecuaristas de renegociarem as dívidas antes do plantio da próxima safra.Para o superintendente da CNA, o atraso agravou os problemas dos agropecuaristas com dificuldades financeiras. “Os produtores que não conseguiram renegociar as dívidas não puderam conseguir novos empréstimos nos bancos e ficaram mais dependentes das tradings [grandes empresas comercializadoras de alimentos] para conseguir investir na próxima safra”, alegou.De acordo com os indicadores apresentados hoje pela entidade, os produtores não estão se beneficiando do aumento dos preços das commodities – bens primários com cotação no mercado internacional – por causa do encarecimento das matérias-primas. Segundo a CNA, a alta dos fertilizantes (em alta por causa do petróleo), dos defensivos agrícolas e das rações (afetadas pela alta do milho) tem corroído a renda dos agropecuaristas.No caso da soja, ressaltou o levantamento da CNA, o custo total de produção subiu em média 35%. A receita, no entanto, não cresceu no mesmo ritmo. De dez regiões pesquisadas pela entidade, em apenas duas – Maracajaú (MS) e Carazinho (RS) – a safra do grão trará lucros efetivos.“Nas áreas restantes, os produtores terão rentabilidade suficiente para pagar as contas tradicionais, mas não conseguirão, por exemplo, investir em novos tratores para substituir os que já se desgastaram”, explicou Cotta.O assessor da Comissão Nacional de Comércio Exterior da CNA, Matheus Zanella, afirma que essa queda da renda desestimula os agricultores a plantarem mais na próxima safra e pode pôr em risco a estratégia do governo de combater a inflação dos alimentos por meio do aumento da produção.“O provável é que a produção não aumente e que os preços para o consumidor não recuem”, disse Zanella. “No mínimo, teremos a manutenção do cenário atual.”