Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Além de um espaço para socialização de quem acabou de se mudar paraoutro país, as associações de brasileiros no exterior têm pelo menosduas ações importantes para melhorar a vida de quem optou por deixar oBrasil. De acordo com a diretora do Centro Scalabriniano de EstudosMigratórios, irmã Carmen Lussi, esse tipo de organização tem opapel de interlocução com o governo e ajuda a manter a identidadecultural brasileira fora do país.“O brasileiro, depois de ter optado por permanecer durante um tempomaior no exterior, quer manter a dupla identidade cultural, manter acomplexidade”, afirma Carmen. “Quanto melhor elasdesempenham esse papel de integração, maior é a legitimidade em relaçãoao diálogo com o governo brasileiro”, complementa.Em setembro do ano passado, o centro iniciou uma pesquisa sobre acidadania dos brasileiros no exterior e acabou chegado às associações. Em quatro países, Estados Unidos, Paraguai, Japão e Portugal, onde há maior concentração de brasileiros,foram encontradas 35 organizações. Quando o universo da pesquisa foiampliado também para Espanha, Inglaterra e Itália, chegou-se a 50associações.No entanto, a diretora destaca que mesmo exercendo uma tarefaimportante, que em muitas vezes supre uma lacuna deixada peloatendimento governamental, as associações ainda reúnem uma quantidadepequena de pessoas envolvidas. “Quem não tem documentos regulares nopaís evita toda e qualquer ocasião em que pode se expor, para não correr orisco de ser identificado, sobretudo nos países europeus e nos EstadosUnidos”, explica.Ainda assim, essas organizações conseguem atingir um número grandede brasileiros, em diversos locais do mundo, com os serviços queoferecem. “Isso é um indicativo de que existe muita gente que estáprecisando e que não existe esse serviço no consulado”, diz Carmen Lussi.De acordo com ela, é possível observar uma substituição dosserviços consulares pelos associativos, não só por opção dos migrantes.“O aumento do número de brasileiros que emigraram foi absolutamentedesproporcional ao investimento do governo brasileiro nos serviços eampliação dos consulados”, avalia.“Essas organizações pedem voz, pedem para ser ouvidas, pois elas têm um contato próximo com quem precisa", completa.Além da demanda por mais espaço nas ações do governo, essa parteorganizada da sociedade civil brasileira necessita, de acordo com Carmen, de apoio financeiro e também cultural, no sentido defavorecer a agregação.A diretora também explica que o associativismo, mesmo crescendo, aindaé frágil, pois está sujeito a mudanças de acordo com a movimentação daspessoas. “Um indicador disso é que o número de associações que nascem émuito maior do que o número de associações que têm no mínimo trêsmeses, ou até um ano”.Carmen afirma que a expectativa é que as associações se fortaleçam e tenhamtambém maior interlocução com os governos dos países que recebem essesimigrantes. Dessa forma, mesmo sem direito ao voto, eles poderiam exercer a sua cidadania. Questões importantes para os brasileiros que vivem no exterior serão debatidas hoje (17) e amanhã, no Rio de Janeiro, durante a 1ª Conferência sobre asComunidades Brasileiras no Exterior - “Brasileiros no Mundo”.