Mylena Fiori
Enviada especial
Hokkaido (Japão) - Apesar dos esforçosdo governo brasileiro para convencer a comunidade internacional docontrário, os biocombustíveis continuam na lista dosvilões da alta nos preços mundiais de alimentos.Indagados pelos jornalistas ao final do primeiro dia da reuniãodo G8, tanto o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, quanto osecretário-geral da Organização das NaçõesUnidas (ONU), Ban Ki-Moon, atribuíram parte da culpa pelainflação alimentar aos combustíveis “Diversosfatores afetaram os preços, mas não há dúvidade que os biocombustíveis estão entre eles”, disseZoellick, que fez questão, no entanto, de diferenciar oscombustíveis produzidos com cana-de-açúcar, comoo etanol brasileiro, dos que são feitos com cereais evegetais. O ex-secretário de comércio dos EstadosUnidos lembrou que cerca de três quartos do crescimento daprodução de milho nos últimos três anosfoi para a produção de etanol nos Estados Unidos.Documentodivulgado pelo Banco Mundial na semana passada para embasar osdebates da cúpula do G8 – grupo dos sete países maisindustrializados do mundo, mais a Rússia – jámencionava o uso do óleo de cereais e vegetais para a produçãode combustíveis como uma das causas da disparada de preços.Segundo dados do Banco Mundial, os preços dos grãosmais que dobraram desde 2006. Apenas neste ano, a alta acumulada éde 60%.Oestudo diz que, nos últimos três anos, cinco milhõesde hectares de terras aráveis que poderiam ter sido usadospara plantação de trigo foram destinadas àprodução de colza e girassol para biocombustíveis– de acordo com o Banco Mundial, isso ocorreu nos principais paísesprodutores de trigo, incluindo Canadá, membros da UniãoEuropéia e Rússia.Odocumento reconhece, no entanto, que a produçãobrasileira do etanol à base de cana não levou a altassubstanciais” no preço do açúcar. O BancoMundial também compara o custo das diferentes produções.Enquanto o etanol da cana-de-açúcar custava US$ 0,90 ogalão em 2007, contra um custo de US$ 1,70 por galão doetanol de milho produzido pelos Estados Unidos e US$ 4 por galãodo biodiesel produzido pelos americanos e europeus.Zoellicksugeriu a revisão dos programas americanos e europeus desubsídios à produção de biocombustíveise a redução das tarifas impostas a esse tipo deproduto.BanKi-Moon concordou com os argumentos de Zoellick, mas ponderou que nãohá dados sobre o exato impacto dos biocombustíveis nacrise mundial de alimentos. “Acredito que são necessáriosmais estudos e mais pesquisa sobre os biocombustíveis desegunda geração”, disse o representante da ONU, lembrando que ogoverno brasileiro promoverá conferência internacionalsobre o tema em novembro.Umadas missões do presidente Luiz Inácio Lula da Silva emHokkaido será, justamente, tentar isentar de culpa a produçãode biocombustíveis. A exemplo do que fez na semana passadadurante a Cúpula do Mercosul, na Argentina, Lula deve jogar aculpa na especulação financeira e cobrar dos paísesdo G8 que parem de comprar safras ainda nem plantadas nos chamadosmercados futuros.