Mães negras se unem em movimentos pelos direitos dos filhos

13/05/2007 - 0h10

Mariana Rozadas e Juliana Cézar Nunes
Repórteres da Agência Brasil
Rio de Janeiro e Brasília - Cemitério ou cadeia. Dois locais onde boa parte das mães negras brasileiras vão passar o domingo. Seus filhos são as principais vítimas da violência no Brasil, segundo a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e a Cultura (OEI). Também são maioria entre os adolescentes privados de liberdade, de acordo com o Instituto Latino- Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud).Para tentar mudar as estatísticas, mulheres negras de todo o país têm se organizado em associações para reivindicar os direitos de seus filhos. No Rio de Janeiro, uma das capitais mais violentas do país, o Dia das Mães passou a ser visto como um dia de luto e estímulo para busca por Justiça.A educadora social Mônica Cunha, 41 anos, faz parte do Movimento Moleque - Mães Pela Garantia dos Direitos dos Adolescentes no Sistema Socioeducativo. Criado em 2003, o movimento reúne cerca de 80 mães, a maioria negras. Elas promovem atividades para os filhos que estão vivos e livres. E buscam assistência jurídica para os privados de liberdade ou assassinados.“Não é porque nós somos negras, moramos em comunidades e nossos filhos cometeram atos infracionários que nós devemos ser banidas da sociedade”, afirma Mônica, moradora do bairro Riachuelo, zona norte do Rio.Em 2001, aos 15 anos, um dos três filhos de Mônica foi preso roubando um carro e entrou no sistema socioeducativo que atende adolescentes em conflito com a lei Rio de Janeiro (Departamento Geral de Ações Socioeducativas - Degase). Ficou internado até 2004. No ano passado morreu em situação ainda não esclarecida. “Eu achava que o que eu tinha deixado de dar em casa, ele receberia lá. A gente sempre se culpa, sempre acha que, em algum momento perdeu a mão, errou e por causa disso os filhos cometeram coisas erradas. Quando a gente chega lá, vê que não é nada disso, a coisa não é assim. O sistema não ressocializa ninguém, não há um trabalho sério, o Estatuto da Criança e do Adolescente, apesar de ser uma lei federal, não é implementado. Eu percebi que, quanto mais adolescentes entram nesse sistema, piores eles saem e piores são as coisas que eles cometem aqui fora.”No Dia das Mães, Mônica pede de "presente" que o governo invista em ações de ressocialização dos jovens em conflito com a lei. Ela defende que os problema dos jovens negros no Brasil seja assumido por toda a sociedade."Nós todos temos de nos unir, não podemos mais deixar esses adolescentes morrerem, crianças serem vitimizadas por outros jovens. Com o movimento, eu atendo meninos que me dão orgulho. O que eu não consegui fazer com o meu filho eu estou fazendo com outros."O filho mais velho de Mônica tem 25 anos, vai se formar em Educação Física no próximo semestre e mora em Blumenau (SC). O caçula, de 13 anos, é estudante e pratica esportes."O meu sonho é um dia, ver as unidades educacionais aplicarem medidas efetivas, que os adolescentes saiam de lá com trabalho, cidadania, dignidade e que a sociedade os respeite e os considere. Eu não quero mais que eles sejam apontados como bandidos, ladrões, negros, favelados, porque eles são filhos de mães negras, iguais à todas as outras mães louras, ricas, daqui ou dos Estados Unidos.”Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45% das mulheres brasileiras são negras (pretas e pardas).Pesquisa do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud) aponta que, no Brasil, entre os adolescentes que em 2004 estavam em privação de liberdade, 97% eram negros, 51% não freqüentavam a escola e 90% não tiveram a oportunidade de concluir sequer o ensino fundamental.De acordo com a Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, Ciência e a Cultura (OEI), em estudo referente aos anos de 2000-2004, o Brasil ocupa o terceiro lugar num ranking de 84 países quando se considera o assassinato de jovens.A maioria, 93% das vítimas de assassinato no país, é composta de homens negros, sendo a chance de um jovem negro morrer vítima de homicídio 85,3% maior do que a de um branco.