Sindicalista do Pará denuncia esquema com pistoleiros para executá-la

29/04/2007 - 18h37

Ana Paula Marra
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A sindicalista e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará (PA), Maria Joel Dias da Costa, voltou a cobrar justiça pelo assassinato do marido, também sindicalista, José Dutra da Costa, o Dezinho. Ele morreu em novembro de 2000 e até hoje, o principal suspeito de ser o mandante do crime, o fazendiero Décio José Barroso Nunes, conhecido como Delsão, ainda não foi punido. O caso marcou a luta de movimentos sociais contra a violência no campo, assim como a morte da missionária Dorothy Stang, assassinada em fevereiro de 2005.Maria Joel também exige punição ao fazendeiro Delsão por nova acusação - a de que ele teria contratado, segundo denunciou à Radiobrás, dois homens - Luiz Gonzaga da Silva e Antonio de Jesus - para lhe matar. Gonzaga e Antonio foram presos na semana passada, mas a sindicalista exige, também, a prisão do suposto mandante. "Este cara (Décio José Barroso Nunes) tem que estar preso. Não podemos aceitar a impunidade de seus crimes. Espero que a Justiça seja feita nesse país onde os culpados nunca são punidos", disse a Maria Joel.Os dois contratados para mantar Maria Joel foram presos no último dia 25 pela Polícia Militar de Rondon do Pará, depois de receber da própria sindicalista, conforme combinado, R$ 300 para deixar o município e não executar o serviço. Maria Joel foi procurada por Gonzaga no dia 24 de abril, que lhe disse ter sido contratado por um fazendeiro de Rondon do Pará para matá-la. Justificou, então, que precisava de uma quantia em dinheiro para ir embora do município porque se não matasse a sindicalista e permanecesse na cidade, quem morreria seria ele.Ao retornar ao sindicato no dia seguinte para receber o dinheiro da sindicalista, Gonzaga, acompanhado de Antonio de Jesus, contou a ela que foi contratado por Delsão. Toda conversa foi presenciada e gravada e ao deixar o local, após ter recebido o dinheiro, os dois homens foram presos. Maria Joel, que logo após ter sido procurada pelos mandantes procurou a delegada Deniele de Souza Prazeres, foi orientada a conversar com Luiz e dá-lhe o dinheiro solicitado.O caso, segundo Maria Joel, já está sendo investigado e os presos foram transferidos para Belém. "Era para eu não estar aqui. Eles só não me mataram porque achavam, segundo disseram, que eu não deveria morrer, por ser uma trabalhadora. Eu só espero que depois desse último acontecimento haja, de fato, uma investigação séria, e que o mandante do crime seja preso". O fazendeiro Décio José Barroso Nunes, principal supeito de ser o mandante do assassinato do trabalhador rural José Dutra da Costa, foi impronunciado, por não haver, segundo a própria justiça, provas suficientes nos autos para levá-lo a julgamento.A sindicalista contou que está sendo ameaçada de morte há algum tempo e, por isso, se encontra sob proteção policial 24 horas por dia. Ela contou, no entanto, que não vai parar de lutar pelas causas dos trabalhadores rurais. Maria Joel Dias da Costa está engajada com movimentos sociais da região. Em 2006, se destacou pela defesa dos direitos humanos e foi premiada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH). O Prêmio Direitos Humanos é concedido anualmente pelo governo federal a pessoas e instituições que se destacaram na promoção e defesa da causa no Brasil e no mundo.