Para agência reguladora, desafio da gestão da água é superar desigualdades regionais

29/04/2007 - 10h06

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O país que tem as maiores reservas de água doce do mundo precisa cuidar melhor dos rios e mananciais para não ver parte da população sofrer de desabastecimento nas próximas décadas. Dono de 12% da maior reserva de água doce do mundo, proporção que pode chegar a 18% se levadas em conta as águas trazidas pelos rios dos países vizinhos, o Brasil não enfrenta problemas de escassez de países áridos nem tem consumo elevado se comparado a nações desenvolvidas, mas deve aprender a usar os recursos hídricos de forma racional.Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2006, apresentado em dezembro pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), o brasileiro consome, em média, 185 litros de água por dia, excluído o volume desperdiçado e utilizado na indústria e na agricultura. Esse valor representa uma posição intermediária em relação a outros países.O gasto médio de água no Brasil é bem menor que os 575 litros diários utilizados por americano e os 365 litros consumidos a cada dia pelos mexicanos. O país, porém, gasta mais água que o Reino Unido (150 litros por dia) e está à frente dos dois países mais populosos do mundo: China (85 litros diários por habitante) e Índia (135 litros diários por habitante).Na comparação com os parâmetros estabelecidos pelas Nações Unidas, o Brasil também ocupa uma posição mediana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) definem que 50 litros por dia são suficientes para suprir a sede e atender às necessidades de higiene pessoal e de lavagem de roupas. Para assegurar um mínimo de conforto, no entanto, esse limite pode ser estendido para 200 litros, segundo as próprias Nações Unidas.Coordenador-geral das assessorias da Agência Nacional de Águas (ANA), Antônio Félix Domingues, afirma que o consumo médio de água no Brasil está dentro do "tolerável". Ele, no entanto, reconhece que esse número está longe de afastar a possibilidade de escassez. Isso porque a distribuição da água é desigual no país. “Essa média de consumo, na verdade, mascara os contrastes entre as regiões”, explica.Segundo a ANA, a região Norte, que tem apenas 8% da população brasileira, concentra 68% dos recursos hídricos do país. Com 42% dos 188,7 milhões de brasileiros, o Sudeste, em contrapartida, detém apenas 7% da água brasileira. A maior carência, no entanto, está no Nordeste, que tem 27% da população nacional, mas apenas 3% dos recursos hídricos.Para Félix, além do combate ao desperdício, o principal desafio do país em relação à água atualmente consiste em superar as disparidades regionais. “No Nordeste, precisamos estimular iniciativas para aumentar a oferta de água, como a construção de cisternas”, ressalta. Recentemente, a ANA elaborou um pacote de 530 projetos que resolveriam os problemas de abastecimento no semi-árido nordestino até 2015.Em relação ao Sudeste, o coordenador da ANA afirma que a prioridade consiste em recuperar a qualidade da água, segundo ele, cada vez mais ameaçada pela poluição e pelos desmatamentos. “Nessa região, é necessário, acima de tudo, investir em obras de saneamento e na revitalização dos mananciais”, ressalta.Os próprios dados da ANA comprovam que o consumo de água no Brasil segue padrão totalmente diferente dos recursos hídricos. Na Bacia Amazônica, que concentra o maior volume de água fluvial do mundo e despeja 130 milhões de litros de água no mar a cada segundo, o consumo é de 45 mil litros por segundo. No mesmo intervalo, o consumo na Bacia do Paraná, que abrange o Sudeste, o Sul e parte do Centro-Oeste, é de 475 mil litros, mais de dez vezes maior.