Trabalhador descobriu câncer causado por amianto quase vinte anos depois de deixar emprego

02/09/2006 - 20h22

Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dezenove anos após deixar o emprego numa fábrica de mísseis nomunicípio de Jacareí (SP), o paulista Silvane Dias Barrios recebeu anotícia de que tinha um tipo de câncer conhecido como mesotelioma. Adoença afeta a pleura, membrana que envolve o pulmão. Ao receber odiagnóstico, no ano passado, ele soube que o câncer era conseqüênciados quatro anos e meio de trabalho na fábrica, período em que ficouexposto ao amianto.“Agora tenho fé, procuro viver o hoje, sempensar no amanhã. Mas quando recebi a notícia, perdi o chão, minhaesposa estava grávida de seis meses, meu filho tinha cinco anos, foicomo receber um atestado de óbito”. O amianto é consideradouma substância cancerígena pela Organização Mundial de Saúde (OMS) epela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Desde 1995, o uso doamianto é proibido no Brasil. Mas a variedade conhecida como crisotilafoi permitida a partir de 1997, em função das propriedades como a altaresistência da fibra ao calor. Na opinião de Barrios, aproibição deveria ser total. “Isso deveria ser uma prioridade. Só quemestá passando por essa contaminação, quem está sofrendo, não só eu, mastoda minha família, sabe o que é a causa do amianto”, diz. Paraele, as próprias empresas deveriam tomar a iniciativa e deixar deusar o produto. “Na época em que eu trabalhava na fábrica, a gentesabia que existia o perigo, mas não sabia qual era a proporção. Maseles (os donos das empresas) devem saber como é a real situação doamianto”.Pela gravidade do caso do trabalhador, os médicos nãoindicaram tratamento com quimioterapia e sugeriram uma cirurgia para retirada do pulmão e colocação de uma prótese. “Se fizesse esse tratamento, a chance de eu morrer eraalta e, se desse certo, o tempo de sobrevida era pouco, um ano e meio”.Emjulho do ano passado, o paulista optou por fazer um tratamentoalternativo, à base de plantas e de argila, mesmo com a estimativa dosmédicos de que teria no máximo mais três meses de vida. “Todos os diasfico enterrado no barro durante três horas”, diz.Este mês,Barrios deve se submeter a outra série de exames. “Em julho, fiz umachapa e o médico disse: o senhor é muito corajoso’. Eu disse para eleque corajoso não sou, mas sou iluminado, com certeza”.