Juliana Andrade
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Empresas e indústrias brasileiras deverão informar anualmente aoSistema Único de Saúde (SUS) a lista de trabalhadores que manipulam oamianto, substância considerada cancerígena pela Organização Mundial daSaúde (OMS). A determinação está prevista na portaria 1851, de 9 deagosto de 2006, assinada pelo ministro da Saúde, Agenor Álvares. Asnovas regras já entraram em vigor.Além de dados da empresa e doempregado, a lista deve conter os exames realizados para acompanhar oquadro de saúde do trabalhador, como radiografia de tórax e prova defunção pulmonar, com o diagnóstico médico. As informações devem serencaminhadas aos SUS até o primeiro dia útil de julho. Ocoordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador do ministério,Marco Antonio Pérez, explica que o objetivo é monitorar a ocorrência dedoenças provocadas pelo amianto no país, para preveni-las ou tratá-lasprecocemente. Segundo o pesquisador da Fundação OswaldoCruz (Fiocruz) Hermano Albuquerque de Castro, estima-se que no Brasilcerca de 300 mil trabalhadores estejam expostos diretamente ao amianto,matéria-prima usada principalmente nas indústrias da construção civil,têxtil, química e no setor automotivo. A inalação da poeira dasubstância pode provocar doenças como a asbestose, um processo defibrose do pulmão que pode levar à morte por insuficiênciarespiratória, e tipos de câncer como o carcinoma broncogênico de pulmãoe o mesotelioma de pleura (membrana que envolve o pulmão). Deacordo com dados da Fiocruz, entre 70 e 90 pessoas morrem por anovítimas de mesotelioma, em conseqüência da exposição ao amianto. Mas,segundo o coordenador da Área Técnica de Saúde do Trabalhador doMinistério da Saúde, a maior parte dos casos não entra nas estatísticasoficiais. “Temos no país uma subnotificação de doenças do trabalho,principalmente doenças causadas pelo amianto”. Marco AntonioPérez afirma que, principalmente nos casos de câncer, a doença só semanifesta 15 ou 20 anos após o período de exposição ao amianto. “Quandoa pessoa procura o serviço de saúde e é feito o diagnóstico da doença,não se faz a relação entre o tipo de câncer que a pessoa estáapresentando e a exposição ao amianto que ocorreu no passado, então osnossos dados são escassos”. Segundo ele, mesmo em relação aoscasos registrados, houve um aumento na última década de doençasrelacionadas ao amianto entre os brasileiros. Desde 1995, ouso do amianto é proibido no Brasil. Mas a variedade conhecida comocrisotila foi permitida a partir de 1997, em função de propriedadescomo a alta resistência da fibra ao calor e a impactos diversos. “OBrasil, na década de 90, optou não por banir o produto, mas o CongressoNacional votou pelo uso controlado do amianto”, explica Pérez.Ocoordenador defende, no entanto, a proibição total da substância noBrasil, medida que, segundo ele, foi adotada por mais de 60 países.“Todas as variedades de amianto causam danos à saúde”, ressalta.