Organizações mexicanas convocam pessoas para entrar nos EUA derrubando o muro da fronteira

28/01/2006 - 16h50

André Deak
Enviado especial

Caracas (Venezuela) – Quarenta e duas entidades sociais mexicanas e norte-americanas estão organizando a entrada de milhares de pessoas nos Estados Unidos pela fronteira em Ciudad Juarez. "Estamos convidando as pessoas para, na primeira semana de maio, derrubarem o muro [que os EUA construíram em parte da fronteira com o México, para evitar a entrada de imigrantes ilegais]", disse Edur Arregui Koba, da Liga Magonista 7 de Janeiro.

Koba disse que não sabe quantas pessoas poderão atender ao chamado, porque isso nunca foi feito. Mas lembrou que da outra vez em que essas organizações mobilizaram pessoas – na ocasião, em defesa do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) –, juntaram 500 mil pessoas.

O anúncio do "êxodo" foi feito hoje (28) em Caracas, no Hotel Hilton, onde está reunida boa parte da imprensa que cobre o 6º Fórum Social Mundial. A idéia, segundo explicou uma das organizadoras, Sandra Mejía, é sair do sul do México no dia 21 de março, e, depois de reunir pessoas por várias cidades, inclusive a capital, chegar em Ciudad Juarez no dia 28 de abril. Ali, pretendem realizar o Fórum Social Fronteiriço, entre 1º e 7 de maio. Nessa semana, em algum momento ainda não definido, pretendem derrubar o chamado "muro da vergonha" e entrar nos Estados Unidos.

Ciudad Juarez, segundo Koba, foi escolhida por ser "um laboratório de horror do projeto neoliberal". Vários ativistas presentes contaram histórias de exploração e miséria causada pelo livre comércio naquela cidade, inclusive o assassinato de mulheres trabalhadoras. "O Nafta [North America Free Trade Agreement, Tratado de Livre Comércio da América do Norte] permite passar facilmente produtos e empresas, mas as pessoas não podem passar", reclamou José Bravo, da Aliança Justa.

O norte-americano Emery Wright, da organização Project South (Projeto Sul), que também faz parte do movimento, disse que é preciso lembrar que "a possibilidade de mover-se é um direito, mas o deslocamento obrigatório é produto da globalização". Koba disse que o Brasil também precisa se envolver, já que o governo do México proibiu a entrada de brasileiros sem visto no país.

"Uma de nossas bandeiras é que o México acabe com o visto para brasileiros e para países pobres da América Central", afirmou Koba. "Mortos ou vivos vamos cruzar aquela fronteira. Vamos derrubar esse fascismo instalado pelas multinacionais e esses governos de direita".