Técnico da instituição norte-americana que administra a internet diz que EUA não governam a rede

16/11/2005 - 8h20

Spensy Pimentel
Enviado especial

Túnis (Tunísia) – Organizar os endereços da internet é apenas "um trabalho muito chato", como define John Crain, técnico da Corporação para a Atribuição de Nomes e Números na Internet (Icann, pela sigla em inglês). A instituição, que não tem fins lucrativos e mantém sede na Califórnia, é uma das expositoras na feira Tecnologias de Informação e Comunicação para Todos (ITC4All, pela sigla em inglês), evento paralelo à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, que começou hoje (16) na capital da Tunísia.

Crain considera o trabalho da Icann meramente técnico e nega que a internet seja "governada" pelos Estados Unidos – uma vez que o governo norte-americano pode incidir sobre decisões da Icann. Para ele, a empresa apenas "administra" a rede, constituindo extensos bancos de dados sobre os responsáveis pelas páginas. O resultado do trabalho, sublinha, é manter a unidade da rede, em torno de um só sistema-raiz.

Segundo Crain, a Icann acompanha "com interesse" as discussões sobre a criação de um fórum internacional para a governança da internet, mas a corporação "não pode fazer nada" a respeito, porque essa será uma decisão dos governos, a qual simplesmente terão que acatar.

O técnico aproveita para desfazer o que chama de "mitos" sobre a administração da rede. Ele diz que seria impossível realizar atos de censura, como o bloqueio da circulação de emails de determinados remetentes. "Não vejo uma maneira sobre como, tecnicamente, se poderia fazer isso", diz.

Crain também afirma estarem equivocados os que dizem que os chamados "servidores-raiz" da rede, que são 13 ao todo, estão sediados apenas nos Estados Unidos. Segundo o funcionário da Icann, que foi criada em 1998, os servidores não são máquinas, apenas denominações "fantasia", que podem ser dadas a grupos ou sistemas de mais de 100 computadores interligados, muitas vezes em mais de um país. "Na verdade, hoje já há mais servidores-raiz fora dos EUA que dentro", diz ele.

O técnico afirma que, na maior parte das vezes, e-mails enviados, por exemplo, entre brasileiros, circulam apenas dentro do Brasil, porque um país como o nosso já tem infra-estrutura suficiente para isso. Mas explica que, no caso de um e-mail enviado do Brasil para a Bolívia, possivelmente a mensagem passa antes por um servidor sediado em Miami (sul dos EUA).

A Icann administra, em última instância, todos os endereços de páginas eletrônicas do mundo. Segundo Mário Teza, representante da sociedade civil do Comitê Gestor da Internet no Brasil, "o governo americano pode tirar o Brasil do ar. Pode vetar o que quiser. Não tem acontecido, porque seria uma crise mundial muito grande", disse.

Colaborou Keite Camacho