Presidente da Tunísia defende nova ordem mundial para a sociedade da informação

16/11/2005 - 9h30

Marcia Detoni
Enviada especial

Tunis - Em meio a críticas da sociedade civil quanto às restrições à liberdade de expressão na Tunísia, o presidente Zine El Abidine Ben Ali defendeu uma nova ordem mundial para a sociedade da informação. "A redução das disparidades econômicas e sociais entre os povos passa pela redução da brecha digital e por um enfoque mais solidário e eficaz", disse Ben Ali ao inaugurar a segunda fase da Cúpula Mundial da Sociedade da Informação na manhã de hoje (16) em Tunis.

Preocupado com a exclusão digital no mundo, principalmente na África, onde apenas 1% da população tem acesso à internet, o governo da Tunísia propôs, em 1998, a realização de uma cúpula mundial sobre a sociedade da informação, cuja primeira fase ocorreu em Genebra em 2003. O evento de Tunis, no entanto, está conseguindo atrair a atenção internacional para as restrições à liberdade de expressão no país, onde há presos políticos e a mídia, inclusive a internet, enfrenta forte controle do Estado.

"É irônico que um encontro mundial sobre a sociedade da informação seja realizado em um país sem liberdade de expressão e que controla a internet", comentou Murali Shanmugavelan, do Instituto Panos, organização não-governamental com sede em Londres que incentiva a comunicação para o desenvolvimento. "A única coisa que podemos esperar é que a realização da cúpula em Tunis ajude a melhorar a situação no pais", afirmou.

Organizações da sociedade civil nacionais e internacionais cancelaram vários eventos paralelos que estavam programados para o dia de ontem em protesto contra abusos cometidos pela polícia tunisiana contra jornalistas e grupos de direitos humanos que tentavam se manifestar na segunda-feira.

Ativistas que participam de eventos paralelos à cúpula denunciam que, na última sexta-feira, uma jornalista do diário francês Libération foi espancada e esfaqueada por policiais à paisana perto do hotel em que estava hospedada em Tunis. O governo de Ben Ali, há 18 anos no poder, nega envolvimento de autoridades no ataque, mas defende o controle da internet. O dissidente Zouhair Yahyaoui foi preso em 2002 e condenado a dois anos de prisão por criticar, em seu website, o sistema político do país. O governo o acusou de "disseminar informações erradas".