Movimento negro se encontra com ministros do TST para reivindicar direitos

16/11/2005 - 18h25

Fernanda Muylaert
Da Agência Brasil

Brasília - Cerca de dez representantes de movimentos sociais do país reivindicaram uma agenda positiva para a inclusão do negro durante reunião com o presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro Vantuil Abdala, e Carlos Alberto Reis de Paula, o primeiro ministro negro da história dos tribunais superiores do Brasil.

O grupo, que participou hoje (16) da 10ª edição da Marcha Zumbi+10 Contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, propôs recentemente ao Ministério Público do Trabalho 28 ações ligadas ao contexto racial. "Num país onde 54% da população é composta por negros, é absurdo ver que só 2% se inserem no mercado. Não há explicação para isso, a não ser que o preconceito existe", afirma o presidente do Instituto de Advocacia Racial e Ambiental (Iara), Humberto Adami Santos Júnior.

Humberto Adami diz que essa abertura de inquéritos foi feita para que a desigualdade possa ser apurada de forma efetiva no campo do trabalho. "Uns dizem que esse é um problema econômico, social e estrutural do negro, mas isso não é verdade. Existe racismo e ele aparece sem nenhuma vírgula ou adjetivo", afirma.

Segundo o presidente do TST, Vantuil Abdala, o encontro com representantes desses movimentos representa um esforço pela conscientização da sociedade. "Temos que aprimorar a consciência da sociedade para então modificar essa cruel realidade do mercado de trabalho para o negro", afirma. O ministro diz que a justiça do trabalho é sensível à situação vivida pelos negros e tenta combater todas as formas de discriminação. "Temos tomado uma posição forte e marcante quanto a qualquer tipo de discriminação, para que se sinta que há um repúdio da justiça".

Além de medidas jurídicas, representantes de movimentos negros reivindicam avanços nas políticas de igualdade racial, tais como a regularização fundiária para as comunidades de descendentes de escravos que viviam em quilombos, uma legislação inclua a história da cultura afro-brasileira no currículo da rede de ensino, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, o direito à vida e a tolerância religiosa.

A Marcha Zumbi+10 deste ano marca os 310 anos do assassinato de Zumbi, líder do movimento negro do Quilombo dos Palmares. Para Humberto Adami, a marcha visa renovar o combate ao racismo nas frentes parlamentares, nos movimentos sociais e no judiciário.