Governo precisa enfrentar a questão racial de forma radical, afirma militante

16/11/2005 - 17h50

Érica Santana
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Não é possível reverter o quadro de desigualdade racial no Brasil sem a adoção de políticas de diversidade que incluam, preferencialmente, mulheres e homens negros nas camadas sociais superiores. A afirmação é da diretora do Geledés - Instituto da Mulher Negra, Sueli Carneiro.

Para protestar contra racismo e reivindicar o avanço das políticas de promoção da igualdade racial, cerca de seis mil pessoas marcharam hoje (16) em frente ao Congresso Nacional. O ato faz parte da Marcha Zumbi + 10 Contra o Racismo, pela Cidadania e Pela Vida. A caminhada marca os 310 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares.

Segundo Sueli Carneiro, falta "vontade política e compromisso" para solucionar o problema. "O governo brasileiro precisa enfrentar a questão com a radicalidade que ela exige porque a questão racial é uma componente essencial para a realização da democracia", observa.

A primeira Marcha Zumbi contra o racismo foi realizada em 1995. Para Carneiro, ao longo desses dez anos a mobilização contribuiu para o aumento da visibilidade do problema racial no Brasil e com algumas iniciativas de políticas públicas, mas "tudo com um caráter eminentemente simbólico que não ataca as raízes das desigualdades que é o racismo estrutural e a discriminação racial".

De acordo com dados do Atlas Racial Brasileiro de 2004, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 65% dos pobres e 70% dos indigentes brasileiros são negros. O mesmo estudo revela que continua a desigualdade na expectativa de vida da população em comparação com de brancos. A perspectiva de vida para uma pessoa negra nascida em 2000 é 5,3 anos menor que para uma branca.

Segundo a militante, os negros brasileiros estão sendo dizimados. "O que está acontecendo é o extermínio da população negra. A taxa de mortalidade materna é extraordinária no país. Isso continua impune e atinge de forma absoluta e majoritária a população negra", argumenta.

Ela acrescentou também que nos últimos anos o problema da violência se gravou. "É uma situação semelhante a de genocídio, sobretudo em relação à população jovem negra das grandes capitais do Brasil."

Para protestar contra a violência sofrida pelos negros, participantes da marcha colocaram 300 cruzes pintadas de preto no gramado que fica em frente ao Congresso Nacional.