Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio - A grande alavanca do crescimento brasileiro são as exportações, afirmou o ex-ministro do Planejamento Delfim Netto na Confederação do Comércio do Rio de Janeiro esta semana. Ele atribuiu ao abandono do setor exportador, observado a partir de 1984, a causa da situação em que o país se encontra hoje. Destacou, no entanto, ter havido um crescimento importante no setor no ano passado.
Disse que entre 1965 e 1984, as exportações brasileiras cresciam muito mais vigorosamente que as exportações no mundo. Em 1985, porém, o setor exportador foi abandonado "e a maior tragédia foi produzida pelo Cruzado, quando o câmbio foi congelado pela primeira vez depois de muitos anos. A partir daí, nunca mais fomos capazes de organizar o setor exportador", criticou.
Analisando-se a média das exportações de 1980 a 1984, observa-se que o Brasil exportava tanto quanto a Coréia (US$ 22,5 bilhões contra US$ 22,9 bilhões) e mais do que a China (US$ 22,1 bilhões). O ex-ministro afirmou que depois de 1984 o Brasil ficou para trás devido ao abandono da política de exportação. Nos 20 anos compreendidos entre 1980 e 2002, as exportações do Brasil cresceram 3 vezes, contra 8 vezes a Coréia e 17 vezes a China atingindo, respectivamente, US$ 60,4 bilhões, US$ 163,4 bilhões e US$ 325,7 bilhões.
Delfim Netto disse que a liberação do câmbio, registrada em 1999, só restabeleceu o estímulo para o setor exportador durante o ano de 2002 "o que mostra que há uma diferença entre o efeito do câmbio e o efeito da quantidade exportada. De forma que quando brincamos com isso, pagamos no futuro com juros e correção monetária".
De 2002 a 2004, o ex-ministro avaliou que as exportações retomaram o vigor, crescendo 26%, enquanto a Coréia cresceu 24% e a China 35%. Isso prova, segundo ele, que o Brasil deveria estar exportando hoje "em condições normais de pressão e temperatura", algo entre US$ 180 bilhões a US$ 200 bilhões. Informou, ainda, que a taxa de juros real praticada no país está hoje em 13,2%. No mundo, quando positiva, essa taxa é de 1% e nos Estados Unidos atualmente é quase 0%.
Segundo avaliou, a melhora importante registrada na economia brasileira nos 2 últimos anos ocorreu à custa da elevação das exportações. Destacou, porém, que se o país continuar com a atual taxa de câmbio por mais 24 ou 36 meses, "vamos voltar outra vez a murchar".