Delegado da PF reclama de buscas e diz que ação atende interesses de Dantas

07/11/2008 - 15h47

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O delegado da Polícia Federal (PF)Protógenes Queiroz, ex-coordenador da OperaçãoSatiagraha – na qual o banqueiro Daniel Dantas foi preso duas vezesno mês de julho – queixou-se hoje (7) das buscas e apreensõesrealizadas pela Corregedoria-Geral da Polícia Federal nestasemana num quarto de hotel onde se hospedava em São Paulo, emsua casa de Brasília e na de seu filho no Rio de Janeiro. Ele vê ligação direta entre a açãoe os interesses do banqueiro. A Corregedoria investiga vazamento de informações na Operação Satiagraha.“Essa busca e apreensão é mais umavez um estratagema sórdido implantado pelo senhor DanielDantas para poder confundir os trabalhos da OperaçãoSatiagraha. Ele é o alvo principal, enquanto nós,investigadores, passamos a ser acusados de crime que nãocometemos. A sociedade sabe disso, mas o vértice do aparelhoestatal não está sabendo conduzir”, criticou Queiroz.“O poder desse bandido Daniel Dantas jáchegou ao extremo nesse país e dá demonstraçãomuita clara de seus tentáculos, da força que ele tem,mas ninguém é cego, é surdo ou serámudo”, acrescentou.Foram recolhidos pelos agentes da PF celulares, pen drives e chips de máquinas fotográficas de Queiroz. Em tom de indignação, o delegado disseter cogitado pedir demissão, por solicitaçãoda família e por se sentir perseguido internamente.“Antes da deflagração da operaçãosofri uma vigilância ferrenha e identifiquei a presençade algumas viaturas e pessoas da PF. Durante e depois da operaçãotambém continuei a sofrer vigilância. Elas podem serindependentes ou não”, ressaltou."Cheguei a pensar nisso [pedir demissão], mas se eu fizesse estaria obedecendo ao que este poder corrupto avassalador que está instalado no país quer que eu faça."Apesar de estar afastado da OperaçãoSatiagraha há mais de dois meses, Queiroz reiterou suaconfiança de que Daniel Dantas sofrerá uma duracondenação pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª VaraCriminal Federal de São Paulo.“Eu, como autoridade policial que investiguei,sei que os dados coletados ali tem indícios e materialidadedo crime de corrupção, de gestão fraudulenta jáconfessa em juízo pelo senhor Daniel Dantas. Tenho certeza que o doutor Fausto de Sanctis vai dar uma sentença à alturado que a sociedade está esperando”, assinalou.O delegado manifestou ainda o temor de que os fatos ocorridos desde a deflagração da Operação Satiagraha gerem um desestímulo para profissionais que trabalham no combate à corrupção no Brasil. "A parte mais frágil do sistema foi atingida. A atividade policial se sente, neste momento, no país, muito enfraquecida porque esse ato parte contra um delegado que tem quase 10 anos de sua vida dedicada a grandes operações de combate ao crime organizado e à corrupção. Com pureza d'alma, qual a vontade que vai ter hoje um delegado de estar à frente de um caso de repercussão nacional? ", questionou.