Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Há seis meses a catarinense Ana Maria Pereira, 44 anos, funcionária pública, busca uma criança para adotar. Ela é uma das 3 mil pessoas que aguarda na fila de adoção no estado de Santa Catarina.Ana conta que a decisão pela adoção foi tomada sozinha depois de ter perdido um bebê em uma gravidez mal sucedida há quatro anos e receber o diagnóstico médico de que não poderia ter filhos. O problema acabou gerando a separação do marido que era contra a adoção ou métodos artificiais para tentar uma nova gravidez. “Eu nem sabia que poderia adotar sozinha. Quando descobri essa possibilidade, adotar foi a primeira decisão que tomei depois de me separar.”Segundo Ana, o processo de habilitação foi rápido, em torno de um mês. Entretanto, na própria Vara da Infância e da Juventude, ela foi informada de que o tempo de espera na fila poderia durar de três a quatro anos. Para a funcionária pública, a criação do Cadastro Nacional de Adoção, lançado hoje (29) pelo Conselho Nacional de Justiça, significa uma esperança de reduzir a espera por um filho.“Eu acho que vai agilizar a adoção, diminuir a espera da gente na fila”, disse. No caso de Ana, o cadastro pode significar o acesso a um bebê de quatro meses que está sendo atendido no abrigo em que ela que trabalha como voluntária em Florianópolis. “Ele foi encontrado na rua e ainda não está disponível para adoção, mas é de outra cidade. Com o cadastro unificado agora pode ficar mais fácil adotá-lo quando saírem os papéis da Justiça.”Ana busca uma criança de até 12 meses, da cor branca e considera que o bebê pode ter problemas de saúde, desde que tratáveis. Para ela, restrições impostas na hora da adoção, que vem sendo apontadas por especialistas como o principal motivo da demora nos processos de adoção, nem sempre são reflexos de racismo ou de exigência excessiva.Ela acredita que, muitas vezes, as opções são fruto de escolhas induzidas pelo próprio formulário de adoção. “Eles colocam essas opções e a gente preenche. Eu acho que poderiam deixar mais em aberto essas escolhas”, disse.Em relação à escolha da raça, a funcionária pública diz que a opção envolve questões familiares e também a preocupação de que a criança passe por constrangimentos no futuro. “Fica mais difícil de dar respostas. Na escola, por exemplo, os amiguinhos vão sempre perguntar: por que sua mãe é branca e você não?”O empresário Sérgio Kato e a mulher Elisabete, que é analista de sistemas, entraram na fila de adoção em Florianópolis em dezembro do ano passado já sabendo das dificuldades de encontrar bebês para adoção. Por isso, tentaram restringir menos a escolha e definiram que a criança a ser adotada pode ter entre até 4 anos de idade. Para Sérgio, o cadastro vai facilitar a vida para os pretendentes e para as crianças que esperam pela adoção no país."Eu acredito que com a unificação, o fato de eu estar cadastrado nacionalmente e a possibilidade de surgirem crianças que coincidam com o perfil que estou esperando, vai facilitar a vida tanto para a gente que está esperando por um filho adotivo como para as crianças que aguardam para ser adotadas”, disse.O casal, de origem oriental, decidiu pela adoção depois de dez anos tentando ter um filho biológico. Segundo eles, a única restrição com relação à criança é que ela não seja negra.“Nós vemos que o processo de adoção para a família já é de difícil inclusão. Há certas dificuldades, entre os orientais, com a cor. Então, para não dificultar ainda mais o processo, fizemos essa restrição”, explicou Kato.De acordo com a Justiça de Santa Catarina, existem hoje no estado 120 crianças disponíveis para adoção e 3 mil pessoas habilitadas a adotar. Muitos candidatos a pais já estão na fila há quatro anos sem encontrar uma criança compatível com perfil desejado. Ainda segundo a Justiça, a maior parte dos pedidos de adoção prioriza bebês com até 12 meses, brancos, do sexo feminino e sem problemas de saúde.