Presidente do Instituto de Terras do Pará aponta métodos violentos da grilagem

26/03/2007 - 22h42

Sabrina Craide
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente do Instituto de Terrasdo Pará (Iterpa), José Eder Benatti, destaca os métodosviolentos em que se apóia a grilagem, processo de apropriaçãoe negociação indevidas de terras públicas.Benattiexplica que para fazer o desmatamento de uma grande árearapidamente é preciso mobilizar uma quantidade significativade mão-de-obra, que é atraída por promessas devantagens econômicas. “Não se fazem grandesdesmatamentos ilegais na Amazônia sem mobilizaçãode mão-de-obra. E, para mantê-la na área,normalmente se usa da violência, da ameaça, e algumasvezes até a eliminação física dostrabalhadores que se revoltam ou tentam fugir da área”, dizo presidente do Iterpa, em entrevista à AgênciaBrasil.

“O que nós temos percebidoé que em toda área que é grilada, que temdesmatamento, não há só uma violaçãoambiental ou fundiária, mas também tem desrespeito aosdireitos humanos, ou seja, violência contra os trabalhadoresque estavam na área”, afirma.

Para ele, a soluçãopara o problema passa pela atuação do Estado e pelasdenúncias feitas pela sociedade civil. Segundo Benatti, épreciso realizar ações imediatas para tentar coibir aviolência. “Essas ações têm efeito dominóporque, se resolvemos rapidamente um problema, ele pode diminuir aviolência em outras áreas, ou seja, as pessoas vãopercebendo que o custo de uma atuação ilegal estáficando muito alto”, avalia.

A ausência do poderpúblico nas áreas que sofrem com a grilagem de terras,especialmente no estado do Pará, é um dos principaisempecilhos para resolver a questão, na avaliaçãodo secretário executivo do Consórcio peloDesenvolvimento Socioambiental da BR-163 (Condessa), Luiz AugustoMesquita de Azevedo. “Há municípios ao longo daBR-163 [Rodovia Cuiabá-Santarém] que sãopraticamente terras sem lei, onde não existe nenhum posto daPolícia Federal, do Ibama ou do Incra”, critica Azevedo.

Para ele, é importante quesejam realizadas ações isoladas, mas é precisotambém estabelecer espaços permanentes de participaçãoda sociedade para discutir questões como ameaças,violência e regularização fundiária juntocom os governos estaduais e municipais. “Se não, quando oEstado sai, volta o desmando de novo, a violência,principalmente associada às questões da terra”,avalia.