Para prefeito do noroeste baiano, transposição do São Francisco vai gerar mais miséria

27/03/2007 - 0h00

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O prefeito de Barra do Mendes, Manoel Gabriel dos Santos, conhecido como Doutor Nel, disse hoje (26) que os 21 municípios que formam o Platô do Irecê, no noroeste baiano, são contrários à transposição do Rio São Francisco. “Se fossem tirar nossa água só para matar a sede do povo, menos mal. Mas estão levando nossa água para projetos de desenvolvimento no nordeste setentrional. Com isso não concordamos”, afirmou o prefeito, cuja região fica a cerca de 200 quilômetros da represa de Sobradinho. Para Doutor Nel, antes da transposição o governo federal deveria implementar projetos de revitalização e de compensação no Platô do Irecê que, segundo ele, é carente em saneamento básico, barragens, programas de irrigação e de geração de emprego e renda. “Eles deveriam cuidar primeiro dos ribeirinhos do São Francisco – depois resolveriam os problemas dos mais distantes. Não que o irmão que está a 700 quilômetros do rio não mereça ter água, mas é preciso antes cuidar dos que sofrem aqui”, frisou. O prefeito, que até janeiro presidiu a União dos Municípios do Platô do Irecê, disse acreditar que a transposição vai secar ainda mais o rio e seus afluentes: “Os rios estão cheios de bancos de areia. Vamos somar ainda mais dificuldade no futuro”. A cidade de Barra do Mendes, explicou, é cortada por dois afluentes do São Francisco, os rios Verde e Jacaré, e a nascente deste secou no ano passado. Para ele, “existem outras alternativas", como projetos de revitalização do rio, como a despoluição e o combate ao assoreamento, e também o desenvolvimento de programas de irrigação e de geração de renda, que atenderiam às populações do Platô do Irecê. Doutor Nel lembrou que dois projetos de irrigação estão parados há anos. “A única coisa que andam fazendo é um trabalho com quilombolas na região. E só”, ressaltou. Ele é prefeito pela segunda vez do município de 15 mil habitantes, a 80 quilômetros da margem do São Francisco.A licença ambiental concedida na sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que permite o início das obras de transposição, deixou a comunidade triste, segundo o prefeito, para quem havia uma “convicção” que o projeto não sairia do papel. “Mas agora descobrimos que fomos vencidos. Isso nos deixa tristes. Acho que o presidente Lula e todos os envolvidos na transposição estão enganados. Deviam olhar primeiro para os ribeirinhos, que estão numa situação de penúria”, concluiu. Barra do Mendes produz banana, feijão, mamão e milho. Há ainda criação de gado e extração mineral (cristal de rocha e diamantes).