Visita de Bush é reconhecimento do protagonismo brasileiro, diz professor da UnB

06/03/2007 - 22h08

José Carlos Mattedi
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A visita do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, reforça o papel de protagonista e de liderança natural do Brasil na América Latina. A opinião é do professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Flávio Sombra Saraiva. Para ele, a importância do evento não pode ser encoberta pelo "antiamericanismo".

Para Saraiva, o governo Lula aceitou correr riscos numa relação próxima com os vizinhos, em vez de ficar de braços cruzados. Essa postura, pontua ele, significa aumentar as crises e a possibilidade de diferenças políticas com os países latino-americanos, pelo fato de o Brasil ter decidido expandir suas empresas públicas e privadas na região. “Estamos internacionalizando nossas empresas no entorno. É uma política externa de expansão do capitalismo brasileiro. Ela é adequada e boa”, observa.

Segundo Saraiva, é melhor correr riscos de atritos com os vizinhos, que muitas vezes reclamam da postura de supremacia brasileira na região, do que “ficar de costas” como ocorria anos atrás. Essa mesma postura, prossegue o professor, vem sendo mantida com os Estados Unidos, numa relação entre as duas maiores democracias do continente, que buscam manter uma agenda conjunta e construtiva, apesar das visões distintas na concepção de relação com o mundo.

“Não podemos ver essa visita com sentimento de antiamericanismo, de paixão. Essa visita mostra o papel de protagonista do Brasil na região, devido a sua geografia, sua relevância econômica e sua inserção global. Por isso, não há espaço para Bush vir aqui e dizer como devemos agir com nossa vizinhança. Temos uma democracia vibrante que avança apesar das crises”, avalia Saraiva.

Em relação à parceria bilateral na produção de etanol, ele pontua que há interesse norte-americano na expansão dessa matriz energética, e que o Brasil saberá defender seus interesses. “Em política internacional, não há muitos amigos. Há, sim, interesses a defender. Mas o Brasil tem capacidade diplomática, a liderança política do seu presidente, e, com o apoio da sociedade, saberá negociar. Bush não nos mete medo”, sublinha.

Sobre a proposta de criação de uma Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que foi motivo de disputa entre os dois países anos atrás, o professor da UnB foi enfático: “A Alca já era, porque só interessava aos Estados Unidos com o Brasil inserido nela. Sem o Brasil, não há mercado comum. E como os norte-americanos, protecionistas que são, tinham muito medo de que, com a Alca avançando, gerasse crise em seus negócios, também por lá o projeto não vingou”, finaliza.