Trabalhadoras rurais ocupam fazendas de multinacionais do papel no RS

06/03/2007 - 18h51

Shirley Prestes
Repórter da Agência Brasil
Porto Alegre - Cerca de mil trabalhadoras rurais da Via Campesina ocuparam nesta terça-feira (06) quatro áreas de plantação de eucaliptos no Rio Grande do Sul, informa a assessoria da Via Campesina. As manifestações fazem parte das comemorações da Semana da Mulher, e as sem-terra anunciaram que pretendem ficar nas áreas por tempo indeterminado.A Via Campesina é uma rede internacional de movimentos sociais rurais que, no Brasil, é representada por movimentos como os de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), de Trabalhadores Desempregados (MTD) e dos Pequenos Agricultores (MPA). A ação das mulheres tem, segundo a assessoria da Via Campesina, o objetivo de “protestar contra o deserto verde”. O termo faz referência à monocultura de eucaliptos em extensão, destinada a fornecer matéria-prima para multinacionais de celulose e papel. Nos últimos anos, várias empresas têm adquirido áreas com essa finalidade no Rio Grande do Sul, especialmente na região sul do estado, valorizando os terrenos e dificultando a reforma agrária na região.Os protestos estão relacionados à Semana da Mulher porque, segundo nota publicada no site do MST na internet, as mulheres são sempre as primeiras prejudicadas pelo latifúndio: "Estudos comprovam que onde avança o deserto verde a agriculturacamponesa está sendo destruída, e as primeiras pessoas a seremexcluídas da agricultura são as mulheres, porque elas trabalhamprincipalmente na produção de alimentos e criação de pequenos animaisdestinada ao consumo das famílias ou para os mercados locais".O protesto iniciado hoje tem como alvos as propriedades das seguintes empresas de celulose: Aracruz (fazenda Cerro Alto) em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre; da Stora Enzo (Fazenda Tarumã e Fazenda Messias), em Rosário do Sul e São Francisco de Assis, na fronteira oeste do estado; da Votorantin (Fazenda Silveira) em Pinheiro Machado, na região sul gaúcha. Segundo Salete Barbosa, uma das integrantes do movimento, a manifestação tem por objetivo “protestar contra os estragos na natureza, a destruição da biodiversidade e a concentração de terras feitas pela plantação de eucaliptos em áreas que poderiam ser usadas para reforma agrária”. Segundo ela, nos 200 mil hectares de terras que as empresas controlam hoje no estado, poderiam ser assentadas "mais de 8 mil famílias”. O subcomandante da Polícia Militar, tenente-coronel Paulo Roberto Mendes, disse que haverá rigor contra os manifestantes ,que serão tratados como qualquer delinqüente. “Quem invade a propriedade de outro não é uma pessoa comum. Há um crime em flagrante nesse momento”, afirmou ele. Segundo o secretário estadual da Segurança, Enio Bacci, “será usado desde o diálogo até a força para a retirada dos manifestantes”.No ano passado, também na Semana da Mulher, trabalhadoras rurais invadiram um laboratório da Aracruz em Barra do Ribeiro, na Grande Porto Alegre, e destruíram parte dos equipamentos.Trabalhadoras rurais ligadas à Via Campesina também realizaram protestos em estados do Nordeste entre ontem e hoje. Segundo a assessoria do MST, em Pernambuco, ontem, cerca de 200 mulheres invadiram a Prefeitura de Aliança. Em Sergipe, hoje, trabalhadoras fecharam a BR-101 em dois pontos do estado: em Maruim e Estância.