Patrícia Landim*
Da Agência Brasil
Brasília - Ísis Nunes é paranaense, funcionária pública, casada e mãe de seis filhos e moradora de Guarulhos (SP). Há 11 anos, foi aprovada em um concurso público da cidade paulista. "Subi as escadas e ouvi quando alguém disse: "mas é essa negrinha?". Depois sumiram os meus documentos e eu tenho certeza que eu perdi a oportunidade de um emprego por ser mulher e por ser negra", conta Ísis que hoje é coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres (UBM). Ela participa da Campanha Mundial 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres que começou no último sábado (25) e termina no dia 10 de dezembro. São 16 segmentos de mulheres abordados durante a campanha. Um deles abrange a situação da negra. Independentemente da mobilização, Ìsis destaca que a UBM promove regularmente debates sobre o direito, a saúde e as políticas públicas voltadas para a mulher. "Com os sofrimentos internos nós conseguimos passar para as mulheres que elas têm condições de transformar essa vida de hoje". Ela levou a amiga Neuma, agredida pelo marido há 10 anos, para participar dos encontros promovidos pela organização.Neuma Gonçalves é pernambucana, conheceu o marido em São Paulo, teve cinco filhos e trabalhou como empregada doméstica, caixa de loja e vendedora de roupa. Hoje, freqüenta a UBM por ter sido violentada fisicamente pelo marido algumas vezes. "Eu achava que não ia conseguir conciliar o trabalho e tomar conta dos filhos se eu saísse de casa. Vivi assim por 22 anos, apanhei muito, comecei a deixar de gostar do meu marido", desabafa. Ela foi a uma delegacia para dar queixa, mas o marido não foi punido. Agora ela sabe que existe uma lei específica para os casos de violência doméstica contra a mulher. Com a sanção da Lei Maria da Penha (11.340/06), o Brasil se tornou o 18º país da América Latina a ter esse tipo de legislação. Na análise da coordenadora nacional da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Rosa Anacleto, uma das violências que atinge muito a mulher negra é a psicológica, devido ao racismo. Ela diz que não há dados estatísticos porque as pesquisas com a questão racial não são comuns. Para Rosa Anacleto, a campanha é importante porque vai colocar a Lei Maria da Penha no centro da discussão e fazer com que seja de conhecimento de todo mundo. "A gente precisa tornar essa lei algo muito popular, para que os homens saibam que agora não é mais cesta básica. Eles vão ser punidos quando violentarem as mulheres da forma como violentam os seus direitos".As mulheres negras também formam uma das categorias-alvo da Campanha 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres que busca chamar a atenção para a problemática da violência doméstica, familiar e sexual que atinge mulheres de todo o mundo. A campanha, que completa 16 anos, acontece em 130 países no período de 25 de novembro - Dia Mundial da Não Violência contra as Mulheres - a 10 de dezembro que é o Dia Internacional dos Direitos Humanos.