Espera por salvaguardas contra China ''já passou do limite'', diz representante do setor têxtil

27/07/2005 - 20h30

Liésio Pereira
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – A regulamentação das salvaguardas contra a China na área de têxteis é urgente para o setor, afirmou à Agência Brasil o presidente do Sindicato da Indústria Têxtil do Estado de São Paulo (Sinditêxtil-SP), Rafael Cervone. "O setor têxtil já passou do limite de suportar esse atraso", disse.

"O acesso da China à Organização Mundial de Comércio prevê claramente as salvaguardas. O Brasil tem um mecanismo importante, específico à China, que é só regulamentar para usar. O país teima em prorrogar, empurrar com a barriga, uma cláusula específica legal e que já foi acordada com a China", acrescentou.

O secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Ivan Ramalho, disse na última segunda-feira (25), no Rio de Janeiro, que não há previsão de data para a aplicação de salvaguardas contra a China. Os decretos que regulamentarão os mecanismos, segundo Ramalho, estão sendo preparados na Câmara de Comércio Exterior (Camex).

Na ocasião, o secretário destacou que muitos setores "têm manifestado preocupação com o crescimento das importações da China, acima de 53% no primeiro semestre". Ele disse, entretanto, que boa parte desse crescimento ocorreu pela compra de componentes e insumos chineses que, ao serem montados no Brasil, agregam valor aos produtos produzidos aqui.

No caso dos têxteis, Cervone destaca que nenhum segmento da cadeia têxtil se beneficiou da importação de produtos provenientes da China. "Muito pelo contrário, até porque hoje o Brasil tornou-se novamente auto-suficiente na produção de algodão e a China não está exportando matéria-prima para nós, está exportando confeccionados. A maioria esmagadora do que a China exporta ao Brasil são produtos de alto valor agregado, por preços ínfimos", alertou.

O Brasil importou US$ 2,273 bilhões em produtos chineses no primeiro semestre, sendo 93,6% em produtos manufaturados, 4,9% de produtos básicos e 1,5% de semifaturados. Em contrapartida, 65% das vendas brasileiras para a China são de produtos básicos e 35%, de manufaturados e semimanufaturados.

"O Brasil e a China não conseguem competir de forma igual porque nós temos um problema de invasão de produtos chineses subfaturados e oriundos de descaminhos", observou Cervone. "A China admite ter exportado 29 mil toneladas de têxteis ao Brasil no ano passado. O Brasil admitiu a entrada de 9 mil. Tem uma diferença de 20 mil toneladas. Ou os navios afundaram ou os produtos entraram por outro caminho que não foi oficial".

Ele usa como exemplo para explicar o subfaturamento dos produtos chineses a cotação das saias de fibras sintéticas nos Estados Unidos e no Brasil. "O maior comprador mundial da China em saias de fibras sintéticas, os Estados Unidos, importou em 2004, em média, a US$ 29,50 o quilo. O Brasil conseguiu importar, em média, a US$ 2,30, ou seja, um décimo do valor. Ou nós negociamos muito bem ou alguma coisa está errada, o produto está subfaturado", disse.

O presidente do Sinditêxtil-SP comentou que o governo está perdendo a oportunidade de mostrar "pulso firme", como fizeram outros países. "Os Estados Unidos, quando se sentiram ameaçados, imediatamente regulamentou as salvaguardas. Até o Peru, que não tem uma indústria tão significativa quanto a nossa, imediatamente fez. O México e a União Européia também", destacou.