Senador diz que oposição pedirá urgência na convocação de tesoureiro do PT em CPI

04/07/2005 - 19h43

Marcos Chagas e Luciana Vasconcelos
Repórter Agência Brasil

Brasília - O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse hoje que apresentará amanhã, na reunião da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga denúncias de corrupção nos Correios, requerimento para que o secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, deponha na próxima semana. A convocação do petista já foi aprovada pela comissão, mas não tem data marcada.

Documentos do Banco Central publicados no fim de semana pela revista Veja comprovam que o publicitário Marcos Valério foi avalista de um empréstimo de R$ 2,4 milhões feito pelo partido no Banco de Minas Gerais (BMG). O secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, divulgou nota em que confirma a realização da operação, no início de 2003, e também a informação de que Valério foi responsável pelo pagamento de uma das parcelas da dívida, de cerca de R$ 350 mil.

As empresas do publicitário Marcos Valério mantêm diversos contratos com estatais e ministérios. Na semana passada, os sigilos fiscal, bancário e telefônico dele e de suas empresas foram quebrados pela CPMI dos Correios.

Junto com Delúbio, Valério é apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos responsáveis pelo suposto pagamento de mesadas a parlamentares do PP e do PL, o chamado "mensalão". O depoimento de Valério à CPI está previsto para a próxima quarta-feira.

As informações sobre o empréstimo determinam a "urgência" da convocação de Delúbio Soares, na opinião do senador Álvaro Dias. "Está explícita a parceria entre Marcos Valério e Delúbio Soares", afirma. Ele diz considerar, também, inevitável a convocação do presidente do PT, José Genoino, para explicar à CPMI a ligação do publicitário com o empréstimo ao partido. "A convocação de José Genoino é inevitável porque ele assinou o documento", disse.

O primeiro vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), afirma que o governo e o PT não têm outro caminho a não ser "a apuração radical de todas as denúncias e punir quem quer que seja". Para ele, o PT está "sob franco processo de linchamento moral". Ele acrescenta que não se pode culpar a oposição por conta disso, uma vez que o PT, quando era oposição, atuava da mesma forma.

"Temos que saber sair deste momento apurando radicalmente toda suspeita sobre toda e qualquer pessoa", diz o senador. De acordo com ele, os deputados e senadores petistas que integram a CPMI dos Correios não criarão qualquer obstáculo às investigações. "Os deputados Arlindo Chinaglia (líder do governo na Câmara) e José Eduardo Cardozo (PT-SP) já sinalizaram neste rumo", afirma.

O publicitário Marcos Valério será ouvido pela CPMI na quarta-feira. Além dele, deverá depor no mesmo dia a sua ex-secretária Fernanda Karina Somaggio. Amanhã, estão marcados quatro depoimentos na comissão. Um deles é de Jairo Martins, que seria o responsável pelo equipamento de gravação que flagrou o ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Materiais dos Correios Maurício Marinho recebendo R$ 3 mil como suposta propina e falando sobre um suposto esquema de corrupção na estatal.

Os outros três que depõem amanhã são: José Fortuna Neves, ex-agente do Serviço Nacional de Informações (SNI), que afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) investigava os Correios a pedido da Casa Civil; Edgar Lange, agente da Abin conhecido como "Alemão", que, de acordo com Fortuna, é quem teria contado a ele sobre a participação da Casa Civil nas investigações; e Caisser Bittar, que teria apresentado o empresário Arthur Washeck (suposto mandante da gravação nos Correios) a Jairo Martins.